sexta-feira, 29 de abril de 2022

Uncharted: Fora do Mapa | Crítica

Uncharted 2022 Poster Oficial Critica
(Os comentários a seguir foram baseados nas anotações feitas durante a sessão.)

- O filme começa num flash-forward desnecessário já revelando uma das cenas de ação mais grandiosas e irreais do filme (o herói pulando em cima de cargas penduradas fora de um avião em pleno voo). Ao fazer isso ele anuncia: em vez de levar a aventura a sério, construir pra um clímax, este será um desses filmes que irão banalizar o heroísmo, o espetáculo, e levar tudo no "humor". (Idealismo Corrompido)

- Claro que o protagonista também não pode ser muito nobre em caráter: logo na apresentação, o filme já deixa claro que o Tom Holland é um ladrão (mesmo isso não sendo fundamental pra trama), e que a história será apenas uma disputa entre times rivais de trapaceiros, não entre bem e mal (um conceito "ultrapassado").

- Parece que Holland é o mocinho mais pelo fato dele não ligar tanto pro tesouro, e estar na jornada motivado pelo amor fraternal. O grande pecado aqui pelo visto é querer o dinheiro, ser ganancioso. Se você for um ladrão, mas não ligar muito pra bens materiais, tiver um passado triste, você ainda é do bem.

- O problema é que o filme quer que a gente fique 2 horas interessado no tesouro, já sabendo que isso não terá importância alguma pro protagonista. A expectativa é nula; o gancho narrativo é fraudulento de certa forma.

- A maneira como eles vão desvendando as pistas é muito rápida e forçada: batem o olho acidentalmente num símbolo numa parede, e em 1 segundo já têm uma sacada brilhante, que um expert levaria dias pra ter — como por exemplo a cena em que Holland vê uma caveira com asas na parede, e imediatamente interpreta aquilo como um estágio intermediário entre "céu e inferno". Tudo soa como uma revelação aleatória e banal, não como uma sacada inteligente e bem escrita. Até porque o roteiro soa estúpido em diversos outros aspectos (ainda não sei como no meio câmaras secretas no subsolo de igrejas antigas na Espanha eles conseguiram enfiar uma cena de balada, onde Holland luta contra capangas enquanto prepara coquetéis).

- "Quando foi que você resolveu virar Indiana Jones?" - Holland diz pra Chloe. Muitas dessas pseudo-aventuras que venho comentando (Alerta Vermelho, Cidade Perdida, Projeto Adam) fazem menções explícitas aos filmes do passado que estão imitando, mas não como uma homenagem honesta, de alguém que está tentando aspirar ao mesmo nível, e sim num tom levemente cínico, como algo distante, inatingível, que não existe mais. Mas reparem que o filme é tão aventuroso (e em alguns pontos até mais extremo) que Indiana Jones. No fundo, o que parece inatingível não é tanto a ação, os acontecimentos grandiosos, a fantasia — e sim o senso de nobreza, a dignidade do herói, a inteligência, seriedade, a atitude Idealista (assim como a qualidade cinematográfica daqueles filmes, claro).

- Clichê tedioso que tem em todo filme: o parceiro que de repente puxa uma arma pro herói e se revela um traidor. Se a Chloe precisava de Holland e Wahlberg pra desvendar as pistas e chegar até aqui, por que agora ela se expõe como inimiga, sendo que ainda há muito o que ser desvendado nas Filipinas pra ela chegar no tesouro?

- A ação física é tão irreal quanto as ações mentais (de desvendar pistas): desde coisas pequenas, como Holland brincando de cipó em lâmpadas fluorescentes, que quebram ou não, esticam ou não, de acordo com a conveniência (e não cortam suas mãos), ou a Chloe que se afoga e está desacordada no minuto 56:10, mas 30 segundos depois já cuspiu a água, voltou à vida, e está trocando ideia casualmente com Holland, ou a Braddock que usa um pano pra enforcar o Mark Wahlberg contra uma coluna (minuto 54:30), sendo que no corte seguinte vemos que o tecido não estava passando ao redor da coluna — até as cenas de ação maiores, como a do avião (Holland despencando do céu numa velocidade muito mais alta que a carga, que é centenas de vezes mais pesada que ele, etc.).

- A sequência do helicóptero içando o navio vai além do ridículo. Acho que nem a saga Velozes e Furiosos rompe com a realidade com tanto orgulho assim... O filme insiste a todo momento que a gente não o leve a sério, não 'suspenda a descrença', pois é tudo uma infantilidade.

- SPOILER: Fico indignado deles destruírem esses navios históricos durante a ação como se fossem objetos banais, e nem pararem pra lamentar, sentir culpa. Eles ainda enfatizam que o navio vale bilhões de dólares (sem falar no valor cultural), antes de mostrá-lo afundando num tom irônico, sob piadinhas casuais. É como se houvesse um certo prazer niilista em ver destruição de riqueza. Óbvio que o ouro também foi jogado fora, sacrificado em nome do "sentimento" — Wahlberg tem que escolher entre o saco de ouro e a vida do amigo, num dilema que não faz o menor sentido, pois a inimiga estava longe ainda escalando a corda, armada apenas com uma faca, e Wahlberg podia facilmente ter esticado o braço pra puxar Holland sem abrir mão da fortuna (imagine o nível de debilidade mental que o diretor precisa esperar da plateia pra achar que ela vai aceitar que é fisicamente possível um helicóptero erguer um navio, mas impossível Wahlberg salvar Holland e o ouro ao mesmo tempo).

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Uncharted / 2022 / Ruben Fleischer

Satisfação: 3


Filmes Parecidos: Alerta Vermelho (2021) / Kingsman: Serviço Secreto (2014) / Cidade Perdida (2022) / Projeto Adam (2022) / Godzilla vs. Kong (2021) / A Múmia (2017)

segunda-feira, 25 de abril de 2022

Abercrombie & Fitch: Ascensão e Queda | Crítica

Abercrombie e Fitch Critica
Documentário da Netflix sobre o sucesso da marca de roupas Abercrombie & Fitch nos anos 90, e como a partir de 2002, pressões sociais (e políticas) foram aos poucos forçando a marca a mudar sua identidade, ajustar suas peças, seus funcionários, suas estratégias de marketing, e se tornar cada vez mais "inclusiva", "diversa", até ela perder suas características originais e entrar em decadência.

O problema é que essa mudança é mostrada como algo positivo, justo, e a empresa original como a grande vilã da história, reflexo de uma América racista (chegam até a insinuar que o CEO Mike Jeffries e o fotógrafo Bruce Weber eram abusadores, predadores sexuais, sem terem grandes evidências, pra dar um ar maléfico à marca e justificar essa intervenção — uma prática padrão no meio da "justiça social").

Isso tudo porque a Abercrombie & Fitch foi criada em cima de uma identidade visual bem particular, que tinha sempre homens atraentes, brancos e jovens estampados em suas campanhas, e também trabalhando em suas lojas. Esse apelo sexual específico era parte da essência da marca, e foi um dos principais motivos de seu sucesso, mas claro que isso foi se tornando cada vez mais problemático no novo milênio, especialmente após o surgimento das redes sociais (e dos ativistas de redes sociais). Ex-funcionários e pessoas que se sentiram em desvantagem no processo seletivo (por não terem a aparência exigida pra trabalhar na loja), começaram a se organizar na internet e a usar recursos do governo pra atacar a empresa e forçá-la a adotar seus critérios.

É importante lembrar que a Abercrombie não estava sendo acusada de maus tratos, agressão, nem mesmo de agressão verbal por essas pessoas... Se a empresa fosse conhecida por ferir ou depreciar certos grupos, seria totalmente aceitável ela se tornar alvo de críticas (os protestos contra uma linha de camisetas que estereotipava asiáticos, pelo que entendi, até que tinham certa razão). Mas o foco da marca não era atacar, depreciar, e sim exaltar beleza — mas beleza de verdade, e de um tipo específico, que não era "diverso", e foi isso que começou a gerar revolta.

Na cabeça dos ativistas, o critério pra ser contratado deveria ser apenas o mérito, a pessoa ser uma boa profissional, sem levar em conta a aparência. Mas pergunte-se: e no caso de um modelo, ou um ator? "Mérito" não inclui ter a aparência certa pro papel? Será que uma empresa privada não tem o direito de vender mais do que roupas, e querer proporcionar uma experiência maior para o consumidor; imergi-lo num certo universo, num cenário vivo, onde cada elemento é controlado; tratar seus funcionários como "membros do elenco", assim como a Disney faz? Será que o dono de uma empresa não tem o direito de usar seu investimento como achar melhor; de ser movido pelo desejo de criar um produto ou serviço que reflita sua visão, seus gostos pessoais? Muita gente hoje trata a obra e a propriedade dos outros como se fossem bens públicos, que deveriam estar sempre sujeitos a votações, palpites e alterações de qualquer um que não tenha gostado (especialmente se esta pessoa for muito rica).

A Abercrombie exaltar um tipo específico de beleza não significa automaticamente que ela está ofendendo pessoas que não se enquadram naquele perfil. E o fato dela gerar trabalho para pessoas com determinada aparência, não quer dizer que ela está "tirando" emprego de outras pessoas. Mas acho que isso é muito difícil pra algumas pessoas entenderem.

Me pergunto até que ponto o argumento do "mérito" desses justiceiros se sustenta, pois sabemos muito bem que, quando profissionais são selecionados com base em mérito, mas por algum motivo o resultado não é uma equipe tão diversa, eles também ficam indignados.

A verdade é que pessoas assim irão usar qualquer argumento pra tentar impor sua visão, mesmo que sejam palavras vazias e manipulativas. No filme, um dos ativistas chega a dizer que a mudança de identidade é para o bem financeiro da marca (como se eles fossem defensores de lucros agora), afinal a maior parte da população está acima do peso, portanto, não é vantajoso vender roupas apenas para pessoas que estão em forma (a empresa ter feito fortunas nos anos 90 é um fato inconveniente que ele deve preferir ignorar).

Lembrando que eles não se contentaram apenas em forçar a marca a ser mais "inclusiva" em suas campanhas de marketing, em suas peças de roupa, em seus funcionários, mas também nos bastidores da empresa: em seus diretores, executivos; tudo com base no discurso da diversidade — levando o próprio CEO Mike Jeffries a decidir se afastar da empresa em 2014, após anos de ataques pessoais e quedas em vendas (claro que o declínio da marca é atribuído a Jeffries, não ao fato da empresa ter sido desfigurada por agentes externos).

Pra quem já me acompanha aqui, é interessante observar como a ascensão e queda da Abercrombie coincide com outras curvas de ascensão e queda que discuto no blog (como a do Oscar e a do cinema em geral), e como ela também está ligada ao sentimento Anti-Idealista que foi crescendo nos anos 2000/2010, que afetou tudo na cultura que de alguma forma simbolizasse status, sucesso, alegria, etc.

White Hot: The Rise & Fall of Abercrombie & Fitch / 2022 / Alison Klayman

Satisfação: 4

Categoria C/F: Narrativa interessante, mas com má ideologia

Filmes Parecidos: O Dilema das Redes (2020) / Super Size Me (2004)

domingo, 24 de abril de 2022

Cidade Perdida | Crítica

Cidade Perdida poster oficialComédia de aventura onde Sandra Bullock interpreta uma escritora de romances que é raptada e levada para a selva por um bilionário (Daniel Radcliffe) que acredita que ela seja a única pessoa capaz de encontrar um tesouro em uma cidade antiga recém descoberta por ele.

Assim como O Projeto Adam (2022) reciclou elementos de O Exterminador do Futuro (1984) / De Volta para o Futuro (1985), e os apresentou sob a forma de comédia, Cidade Perdida faz o mesmo com Os Caçadores da Arca Perdida (1981) / Tudo por uma Esmeralda (1984) — mais ou menos como Alerta Vermelho (2021) fez recentemente também

Como já disse algumas vezes, tenho certos problemas com filmes que são essencialmente aventuras, mas que são transformados em comédias simplesmente pelo fato dos personagens falarem e agirem de forma atrapalhada. É sinal do Idealismo Corrompido da atualidade que aventuras escapistas como essas sejam apresentadas como comédias, algo a não ser levado a sério. Vale lembrar que os filmes dos anos 80 que citei têm bastante humor também. A diferença é que havia seriedade e inteligência o bastante — tanto nos personagens, quanto na ação e na construção das tramas — pra que você acreditasse nas coisas que estavam acontecendo. O humor vinha como um tempero, mas não era o prato principal ou a única coisa sendo servida. Em Cidade Perdida, tudo é apresentado como uma palhaçada, algo assumidamente cômico e fantasioso, então não é possível acreditar na história — começando pela ideia de Bullock ser uma mulher séria, que prioriza o intelecto (que deveria ser o extremo oposto de Tatum), sendo que sua caracterização está mais pra uma Miss Simpatia, e é ela própria que escreve os romances baratos pelos quais é conhecida.

Nada contra comédias, o problema é quando o filme fica em cima do muro e às vezes quer agir como se fosse uma aventura real — mostra paisagens fantásticas, atos heroicos, romance, e subitamente adquire um tom mais dramático, emocionante, como se a plateia fosse ficar comovida ou excitada pela ação. É como se ele usasse um lado do "muro" como pretexto pra não se comprometer com o outro... O lado "aventura" não precisa ser tão sério e eficaz, pois o filme tem a desculpa de ser só uma comédia (a trama não precisa ser tão convincente, original, a ação não precisa fazer muito sentido, tudo pode ficar na superfície, sem suspense, tensão...), e ao mesmo tempo, o lado "comédia" não precisa ser tão elaborado assim, afinal ele tem a desculpa de estar seguindo a narrativa de uma aventura (há trapalhadas a todo momento, mas o filme não cria set pieces icônicos como uma boa comédia, não escala humoristas de fato pra protagonizar a história, figuras realmente contrastantes e incompatíveis, e sim atores que poderiam muito bem estar interpretando heróis de verdade). O resultado é um filme legalzinho, bem produzido, que distrai, faz rir em alguns momentos (até pelo carisma do elenco, que é bom) mas nunca passa disso.

The Lost City / 2022 / Aaron Nee, Adam Nee

Satisfação: 5

Categoria B/C: Idealismo de nível artístico mediano, misturado com elementos Corrompidos (humor e despretensão comprometendo o Idealismo da história)

Filmes Parecidos: Alerta Vermelho (2021) / Sonic 2: O Filme (2022) / Jumanji: Bem-Vindo à Selva (2017) / A Espiã Que Sabia de Menos (2015)

quinta-feira, 21 de abril de 2022

Medida Provisória | Crítica

Medida Provisoria poster
Promovido como uma mistura de Black Mirror com Parasita, o filme imagina um futuro não muito distante no Brasil onde um governo de extrema direita decide que todos os negros devem ser capturados e mandados "de volta" para a África como reparação histórica pela escravidão. A medida absurda surge como reação a um movimento iniciado pela esquerda, que exigia reparação histórica para os negros, mas na forma de dinheiro (algo que o filme trata como uma medida totalmente sensata e justa). Lázaro Ramos, que dirigiu o filme, parece querer pegar a onda de Wagner Moura e de filmes como Marighella, mas como cineasta faz um trabalho medíocre, pra dizer o mínimo. O retrato do conflito social é caricato, sem nuances ou observações inteligentes, e não chega nem a divertir como um Não Olhe para Cima. Apesar de eu discordar do filme politicamente, em alguns momentos me peguei até torcendo pra que ele melhorasse, pois apesar de tudo, detesto ver artistas se constrangendo. Mas o filme tem inúmeros problemas de ritmo, estrutura, tom, montagem, e até atores experientes como Taís Araújo e Seu Jorge conseguem se sair mal em certas cenas (embora nada seja mais bizarro que Alfred Enoch, da série Harry Potter, tentando se passar por um típico brasileiro com seu sotaque de gringo). Filmes como Bacurau ou Que Horas Ela Volta? podem até ser fracos como cinema, mas pelo menos são bem sucedidos na missão de criar discórdia, irritar a direita... Esse aqui acho que nem isso consegue. Fica parecendo que Lázaro Ramos, ao contrário de tantos cineastas brasileiros, não é um militante autêntico, não tem um ódio do "sistema" tão enraizado em sua personalidade, e está fazendo isso mais pela popularidade, pelo prestígio no meio artístico — algo que ele não deve conseguir desta vez.

Medida Provisória / 2020 / Lázaro Ramos

Satisfação: 2

Categoria C: Filme comercial motivado por política e cheio de más ideias

Filmes Parecidos: O Poço (2019) / Marighella (2019) / 3% (2016) 

segunda-feira, 18 de abril de 2022

Diário - Abril 2022

Abril 2022:

18/4 - Drive My Car (2021 / Ryûsuke Hamaguchi)

Satisfação: 4

Categoria D: Naturalismo

Filmes Parecidos: Em Chamas (2018) / Assunto de Família (2018) / Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre (2020)



17/4 - X (Ti West / 2022)

Slasher da A24 (em grande parte inspirado no O Massacre da Serra Elétrica original) que tem uma primeira meia hora interessante, mas logo que começam as mortes se transforma em mais um exemplar do "pós-terror", cujo objetivo não é entreter ou assustar e sim em exibir o "conceito" do diretor e fazer observações culturais cínicas (o monstro aqui simboliza o conservadorismo, como de costume).

Satisfação: 5

Categoria C: Idealismo Corrompido (gênero tradicional subvertido por tom de auto-paródia e toques de Anti-Idealismo)

Filmes Parecidos: Saint Maud (2019) / Corra! (2017)



14/4 - A Pior Pessoa do Mundo (Joachim Trier / 2021)

Satisfação: 7

Categoria D/C: Naturalismo / Comédia dramática com Senso de Vida Malevolente

Filmes Parecidos: A Filha Perdida (2021) / O Rei de Staten Island (2020) / Frances Ha (2012)



13/4 - Sonic 2: O Filme (Sonic the Hedgehog 2 / 2022 / Jeff Fowler)

Satisfação: 6

Categoria B/C: Idealismo pouco sofisticado e com elementos Corrompidos (despretensão, ética altruísta)

Filmes Parecidos: Pokémon - Detetive Pikachu (2019) / Lego Batman: O Filme (2017)



13/4 - O Projeto Adam (The Adam Project / 2022 / Shawn Levy) 

Satisfação: 5

Categoria C: Idealimo Corrompido (humor usado pra anular o Idealismo da história)

Filmes Parecidos: Free Guy: Assumindo o Controle (2021) / A Guerra do Amanhã (2021) / Guardiões da Galáxia (2014) / Alerta Vermelho (2021)



11/4 - A Bolha (The Bubble / 2022 / Judd Apatow)

Satisfação: 4

Categoria B: Idealismo malfeito

Filmes Parecidos: Porta dos Fundos: Contrato Vitalício (2016) / Os Picaretas (1999)



5/4 - Apollo 10 e Meio: Aventura na Era Espacial (Apollo 10 1/2: A Space Age Childhood / 2022 / Richard

Linklater)

Satisfação: 8

Categoria A/D: Híbrido de Naturalismo e Idealismo (reconto de memórias pessoais mas feito de forma criativa e inspiradora)

Filmes Parecidos: Belfast (2021) / Licorice Pizza (2021)



5/4 - Cyrano (2021 / Joe Wright)

Satisfação: 2

Categoria B/C: Idealismo Corrompido (wokismo e música ruim)

Filmes Parecidos: Cinderela (2021) / O Rei do Show (2017) / Querido Evan Hansen (2021)



3/4 - Águas Profundas (Deep Water / 2022 / Adrian Lyne)

Satisfação: 6

Categoria B: Idealismo crítico com trama insatisfatória (especialmente no 3º ato)

Filmes Parecidos: Infidelidade (2002) / Garota Exemplar (2014) / The Voyeurs (2021) / O Talentoso Ripley (1999)

domingo, 17 de abril de 2022

Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore | Crítica

(Os comentários a seguir foram baseados nas anotações feitas durante a sessão.)

- É mais um desses filmes com narrativa de série de TV, que começam já com a ação se desenrolando, sem dar nenhum contexto pro espectador. O filme mal começou e eu já estou confuso... Por que o Newt está indo ajudar esse animal dando cria no meio da noite? Ele já sabia que os outros iriam tentar roubar o filhote? Dumbledore e Grindelwald já eram um casal gay ou inventaram isso agora? O filme nem se esforça pra pontuar que o Grindelwald agora é interpretado pelo Mads Mikkelsen (já que o Johnny Depp foi cancelado). Às vezes perdoo essas coisas pensando "quem é fã está entendendo tudo", mas nesse caso tinha um fã de Harry Potter do meu lado que demorou mais de meia hora pra assimilar que Mads era o Grindelwald. A história é mal contada (assim como as dos outros 2 filmes e também as de alguns dos Harry Potter), vai pulando de um núcleo pra outro de forma arbitrária, sem estabelecer primeiro qual o conflito central, qual o propósito da história, qual o desejo do protagonista, etc.

- Continuo achando o Eddie Redmayne uma figura excêntrica demais pra ser o herói de uma franquia desse gênero.

- É interessante a ideia deles não poderem saber cada etapa do plano pra despistar o vilão (que tem o poder de prever suas ações), embora isso não seja muito bem elaborado. O problema é que Grindelwald é um vilão distante, pouco ameaçador... Tirando a cena da eleição (que ocorre só no final do filme), ele não tem contato algum com os protagonistas. Parece estar numa história paralela, distante. E a rivalidade maior dele é com o Dumbledore, não com o Newt... Dumbledore é que devia ser o protagonista do filme, não o Newt... Talvez ele seja, mas não é algo claro. Ficam todos parecendo coadjuvantes.

- J.K. Rowling tem uma ótima imaginação pra criar universos, pensar em magias, criaturas, coisas concretas... mas não tem muita noção de trama, de como estruturar uma história. Da mesma forma, a produção do filme é bem feita (efeitos especiais, direção de arte, figurinos), mas a narrativa é fraca.

- Há uma sequência longa do Newt indo resgatar o Theseus da prisão (o alívio cômico dos caranguejos é repetido até cansar), mas esse resgate nem parece um desenvolvimento relevante pra trama. Nem lembro direito por que o Theseus foi preso, ou qual a função dele no filme.

- É típico das chatices atuais que um filme de fantasia pra família no fim seja sobre política, fraudes eleitorais, a ascensão do nazismo, etc. Ainda assim, a cena da eleição é a melhor parte do filme, pois é a única onde há clareza, onde realmente entendemos a função do Qilin, o plano do vilão, a estratégia dos heróis, e assim há certo suspense, interesse no que vai acontecer, etc. Tudo isso já tinha sido exposto antes, só que através de diálogos, cenas casuais, que não dramatizavam direito nem davam ênfase pro que é essencial para a história. Logo nos primeiros minutos, o filme já devia ter deixado alguns pontos claros para o espectador: haverá uma eleição importante, o vilão quer vencer "fraudando" um Qilin (que é o animal mágico que determina o vencedor), então eles precisam impedi-lo de alguma forma, se não tragédia X ocorrerá. Pronto. Se depois disso, víssemos o Newt indo no meio da noite resgatar o filhote do Qilin etc., o espectador estaria entendendo a história e participando dela com curiosidade, em vez de testemunhando ações passivamente. Tudo estaria costurado por um propósito, o que tornaria o filme mais interessante. Só que o filme não se comunica com uma epistemologia racional, e sim com uma epistemologia mística, subjetiva, que gosta de estar diante do misterioso, de se perder num universo incompreensível (há várias daquelas cenas de "ação" que consistem de 2 pessoas disparando raios mágicos uma contra a outra, e a do bem vence por alguma "força" indefinida — algo que também reflete uma mentalidade não objetiva, que não se importa por razões, explicações).

- A personagem da Maria Fernanda Cândido mostra o quão superficiais são alguns dos personagens (e como a narrativa é superficial). Nós no Brasil, como conhecemos ela, ficamos atento a cada segundo dela na tela. Então vemos como ela é mal explorada, e mal tem 1 frase o filme todo... Mas um espectador de outro país, talvez fique com a sensação vaga de que a Vicência foi uma personagem importante, que teve uma relevância maior na história — assim como na cena da prisão eu fiquei com a sensação de que o Theseus devia ser muito importante pro filme, só não lembrava exatamente por que.

- O romance entre o padeiro e a Queenie ganha bastante atenção (tanto que o filme acaba com o casamento dos dois) mas é algo que rolou no filme anterior e eu nem lembro mais por que eu deveria me importar. O roteirista parece achar que estamos maratonando os 3 filmes, e que não há necessidade de recriar o interesse, dar um novo motivo pro espectador se envolver.

- SPOILER: Muito pomposo e arrastado esse final (Dumbledore assistindo de longe a cerimônia e indo embora) pra uma história que não foi tão épica assim, e ainda nem foi concluída (afinal, Grindelwald continua solto).

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Fantastic Beasts: The Secrets of Dumbledore / 2022 / David Yates

Satisfação: 5

Categoria B/C: Idealismo com uma salada de problemas narrativos (falta de objetividade) e de valores (Idealismo Corrompido)

Filmes Parecidos: Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald (2018) / Harry Potter e as Relíquias da Morte (2010) / O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos (2014)

sábado, 9 de abril de 2022

Morbius | Crítica

(Os comentários a seguir foram baseados nas anotações feitas durante a sessão.)

- Quando o filme mostra o Morbius criança no hospital, há toda uma ênfase no fato dele ser doente, sofrer bullying — no lado loser do personagem — que é aquele toque obrigatório de Idealismo Corrompido. Mas não é algo presente o filme todo.

- Em termos de fotografia, direção, o filme parece dentro dos padrões da Marvel. O primeiro grande problema que eu vejo (e que pode explicar a má recepção do filme) é Jared Leto como protagonista. Pra mim ele se tornou uma dessas figuras em Hollywood que, quando surgem na tela, fazem qualquer coisa parecer meio flopada, sem credibilidade, tipo o Nicolas Cage até uns anos atrás. Não acho ele um ator forte, ele não tem perfil de super-herói, e menos ainda de um cientista genial (só pra jogar uma polêmica: há estudos que indicam que rostos com olhos mais próximos — tipo os do Will Ferrell — passam uma impressão de baixa inteligência).

- A história em si eu até acho interessante: a busca pela cura, os testes com a saliva de morcego, etc. Comparando com Batman (2022) que foi aclamado, Morbius tem uma trama bem mais sólida, melhor contada. Me lembra A Mosca (1986) em alguns momentos, mas mais fraco e sem um protagonista à altura.

- O filme não estava muito promissor, mas até agora tinha salvação. Só que daí vem a cena que torna essa má impressão irreversível: a primeira transformação de Leto na criatura. Acontece tudo muito rápido (ele aparecendo no teto), e de uma hora pra outra o filme parece virar um terror B (lembrei da cena bizarra de luta do final de Maligno). O momento Matrix dele desviando das balas é particularmente idiota. Sem falar que o Morbius é muito feio, e não no bom sentido (já que um monstro é pra ser feio), e sim que o design é estranho... A criatura fica meio ridícula (lembrei do "sósia" do Michael Jackson em Todo Mundo em Pânico 3). Podia ser mais como o Venom, ou como o Spawn (1997), que têm uma aparência grotesca, mas ainda com um visual imponente etc. São coisas meio subjetivas, mas que fazem diferença - basta lembrar do Sonic antes e depois da polêmica do trailer; não houve nenhuma mudança tão extrema, mas o primeiro incomodava, e o segundo funcionou.

- Morbius vai de um cara frágil, doente, pra um monstro horrível, igualmente doente em alguns aspectos (apesar da força física). É o tipo de super-poder que vem mais como uma maldição... Não é um fator que costuma incomodar o público geral, mas eu como espectador não tenho vontade de ser o Morbius, de passar pelo que ele passa (é um pouco como o Hulk, mas ainda menos divertido). Prefiro histórias onde a transformação é pra algo atraente, vantajoso (ou então que vire um conto de horror mesmo, como A Mosca).

- Há momentos legaizinhos na trama (SPOILER): quando há a surpresa de que o amigo Milo tomou o soro também; ou quando Morbius vai descobrindo novos poderes (voar, etc.). Nada é muito bem feito ou original, mas pelo menos o filme é baseado num roteiro honesto, que está tentando contar uma história coerente.

- Não sei por que saem sempre essas fumacinhas coloridas dos personagens quando eles correm/pulam. É um efeito especial genérico, sem sentido, que daqui uns anos parecerá datado.

- O ator que faz o vilão (Milo) também fica estranho quando vira monstro (a cena ridícula dele dançando no banheiro, por exemplo).

- O confronto final entre os dois até que não é ruim (Morbius controlando os morcegos, etc.). As partes envolvendo a Martine Bancroft não têm muita graça, pois o romance entre os dois nunca colou.

CONCLUSÃO: Pra mim o maior problema do filme é o fato do herói (ou do anti-herói, sei lá) não ter ficado cool/sexy/foda como os fãs gostariam. Isso tira pontos do filme sim, afinal acho que o protagonista tem sempre um peso enorme no resultado final de um filme, porém pra mim não destrói o filme inteiro, pois eu coloco na balança outros elementos, como roteiro, direção, etc. Mas como disse na crítica de Batman (2022), muita gente hoje parece só ligar pra essa impressão superficial dos filmes... se a produção tiver um visual cool, se o herói estiver "arrasando" na tela, é nota 10. Se não, é nota 0. Outras questões cinematográficas quase sempre são ignoradas.

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Morbius / 2022 / Daniel Espinosa

Satisfação: 4

Categoria B/C: Idealismo com pouca qualidade artística/cinematográfica (e uns toques de I.C.)

Filmes Parecidos: Venom (2018) / Quarteto Fantástico (2015)