segunda-feira, 24 de junho de 2019

Outros filmes vistos - Junho 2019

I am Mother (2019) - 4.0

Benzinho (2018) - 3.5

Democracia em Vertigem (2019) - 3.0

Mistério no Mediterrâneo (2019) - 6.5

Dor e Glória (2019) - 6.5

Pokémon: Detetive Pikachu (2019) - 6.5

sábado, 22 de junho de 2019

Toy Story 4

(Esta crítica está no formato de anotações - em vez de uma crítica convencional, os comentários a seguir foram baseados nas notas que fiz durante a sessão.)

ANOTAÇÕES:

- O flashback inicial serve pra estabelecer que Bo foi doada e se separou da turma, mas toda a sequência de ação pra salvar o carrinho da enxurrada parece desnecessária, jogada ali só pro filme começar num ritmo acelerado.

- Muitas vezes os alívios cômicos acabam sendo as melhores coisas nos filmes da Pixar (sacadas divertidas como Forky ser complexado por ser feito de lixo, etc).

- A animação é excelente como de costume, mas o filme acaba parecendo uma continuação desnecessária, redundante, pois volta a falar de abandono, temas já explorados em episódios anteriores. Sem falar que a trama é não é das mais envolventes: a garotinha Bonnie apenas corre o risco de perder um garfo descartável que ela gosta de brincar, e Woody cria toda uma mobilização pra evitar que o garfo se perca - mas não é algo que pareça sério o suficiente pra prender a plateia. Falta um conflito mais dramático.

- Woody é um protagonista meio desinteressante pois é daqueles heróis altruístas cuja missão na história é apenas servir, ajudar os outros a conseguirem o que querem, mas que nunca busca um objetivo pessoal, atraente, com o qual a gente possa se identificar (no começo do filme, fica claro que o desejo real dele é ser importante pra Bonnie, ser amado por ela como ele era amado pelo Andy - com isso a gente até poderia se identificar, o problema é que daí ele percebe que Bonnie gosta mais do garfinho descartável, e então ele passa a fazer de tudo pra que Bonnie e o garfinho fiquem juntos, ignorando suas necessidades pessoais).

- O roteiro é cheio de desvios e sub-tramas desnecessárias, pouco interessantes. Por exemplo Buzz indo atrás de Woody e ficando preso no parque de diversões, ou a missão dos brinquedos de roubar a chave da velhinha pra abrir o armário (várias piadas em cima disso), sendo que não fica claro que o armário está trancado (o boneco de ventríloquo entra e sai de lá pra falar com Gabby Gabby sem parecer usar chave). Daí tem o motoqueiro que precisa fazer o salto pra chegar no armário (criam todo um "arco" pro motoqueiro, vemos flashbacks, ficamos sabendo de seus traumas pessoais) sendo que parece um personagem desnecessário - não parece tão difícil assim subir num armário, ainda mais pra brinquedos que estão o tempo todo saltando de carros, voando pelos ares, etc. SPOILER: No fim tudo ainda dá errado, Forky continua preso no antiquário, e nada disso serviu pra qualquer coisa.

- SPOILER: O filme romantiza tanto o auto-sacrifício que faz Woody praticamente doar um rim (sua caixinha de voz) pra resgatar Forky. E como se isso não bastasse, depois que eles já estão livres, Woody resolve voltar e arriscar tudo de novo só pra ajudar Gabby Gabby, a vilã do filme!

- A sequência de ação final é meio fraca (inventam que é necessário dar um salto épico da roda-gigante pra chegar a tempo no carrossel, o que não parece ter lógica). Isso é como a ação inicial pra salvar o carrinho da enxurrada - o roteirista deve ter lido em algum lugar que é necessário começar um filme com uma cena de ação, terminar com uma ainda mais intensa, e daí inventa qualquer desculpa pra enfiar essas cenas, mesmo que a trama não justifique.

- SPOILER: O final é um festival de abnegação, auto-sacrifício (e oportunidades pra mensagens progressistas sutis). Gabby Gabby, que era a vilã, agora parece ser boazinha pois abandonou seu "sonho americano" (que o filme caracteriza como algo retrógrado, artificial, nocivo - a boneca perfeitinha que serve chá, etc) e ao mesmo tempo passou a ser "socialmente consciente", se doando pra uma garotinha necessitada de família inter-racial. Woody também abre mão de sua estrela de xerife e a entrega para Jessie (assim como o Capitão América e o Thor se aposentaram e entregaram suas armas para representantes de "minorias" no final de Vingadores: Ultimato). Pior de tudo é a ideia de Woody abandonar tudo aquilo que sempre valorizou, seus amigos, sua "criança", pra ficar com uma personagem como a Bo, com quem ele não tem real afinidade (os dois têm valores incompatíveis, tiveram atrito ao longo do filme todo). Em nenhum momento ele pareceu ter romance como seu grande objetivo, ou valorizar Bo mais do que ele valoriza sua vida com uma criança. Toda a proposta de Toy Story costumava ser romantizar a relação entre criança e brinquedo, tornar essa relação algo mágico, parte essencial da infância. É muito claro que felicidade, no universo do filme, é ser querido por uma criança. E que ser abandonado, perdido, é o equivalente à morte para um brinquedo (todos os brinquedos perdidos ou sem dono no filme invejam aqueles que têm uma criança). Mas a esse ponto já está claro que, pra Pixar atual, há algo de maduro e profundo em abrir mão da felicidade, de seus sonhos - em aceitar a infelicidade, a morte (como na pavorosa cena da parte 3, onde os brinquedos dão as mãos em direção à fornalha). É o que discuto na postagem Pseudo-sofisticação. A personagem da Bo representa bem essa vertente "Anti-Idealista" do entretenimento atual. Ela é aquela que não acredita mais na felicidade; fala como se o sonho de Woody de viver com uma criança fosse uma espécie de romantismo ultrapassado, inadequado pros tempos atuais. Ela vive agora numa realidade "pós-idealista", num mundo meio Mad Max, cheia de cicatrizes, endurecida pela vida, vivendo por conta própria, excluída da sociedade - uma realidade onde a magia acabou. E é isso que o filme faz Woody escolher no fim - os amigos, a vida feliz com uma criança, essas são fantasias tolas que ele deve abandonar.

Toy Story 4 / EUA / 2019 / Josh Cooley

NOTA: 5.0

sexta-feira, 14 de junho de 2019

Godzilla II: Rei dos Monstros

Tenho percebido uma demanda em Hollywood por filmes de ação que sejam ruins de propósito, de forma auto-consciente, como é o caso de Godzilla II (o filme tem tantas ideias nonsense por minuto de projeção que outra explicação me parece improvável) - filmes que lembrem as pessoas de filmes-pipoca do passado que elas curtiam quando jovens (e que na época não eram auto-conscientes), mas que se tornaram tolos demais pra serem apreciados seriamente na vida adulta (protagonistas excessivamente corajosos, atores canastrões, cenas de ação forçadas, etc). É uma pena que esses cineastas não consigam dissociar aquilo que de fato atraía o público a esses filmes (o senso de heroísmo, de aventura - ou seja, valores Idealistas) dos elementos ruins (a falta de sofisticação das produções de segunda linha). Na cabeça deles, é como se pra provocar de novo aquele tipo de sentimento fosse necessário abandonar a inteligência, o bom gosto, a seriedade, e se entregar a prazeres infantis e irresponsáveis. São pessoas cínicas no fundo, que não acreditam mais que a vida possa ser interessante como nos filmes, que não respeitam a função do escapismo, e que agora só conseguem apresentar aventuras do tipo sob um ar de deboche, dando confirmações constantes para o espectador, cena após cena, de que todo aquele espetáculo não passa de uma grande tolice e não deve ser levado a sério. Se essa era a intenção, Godzilla II não é um filme mal sucedido - mas talvez seja necessário ter se juntado ao clube dos cínicos para aproveitá-lo totalmente.

Godzilla II: Rei dos Monstros / EUA, Japão / 2019 / Michael Dougherty

NOTA: 4.0

terça-feira, 11 de junho de 2019

X-Men: Fênix Negra

Fênix Negra reforça essa tendência do cinema de querer "humanizar" os heróis, focar em suas falhas e conflitos (reparem como os super-heróis atuais estão constantemente lutando entre si, não apenas contra os vilões) a tal ponto que agora a única coisa que os diferencia de pessoas comuns são suas habilidades físicas inatas, que muitas vezes nos filmes são apresentadas mais como maldições do que como dons atraentes de fato.

Em termos de narrativa, a história é pouco empolgante e cheia de ideias estranhas, como a presença de E.T.'s que podem mudar para a forma humana, embora essa característica deles não tenha a menor necessidade para a trama - e ainda estou tentando entender como é que aquela mini-nebulosa flutuando no espaço pode ter sido confundida com uma "explosão solar" por qualquer pessoa. O filme tem bons atores e uma produção decente, porém nada disso compensa o roteiro fraco. Fênix Negra não é o pior filme da franquia X-Men como aponta o Rotten Tomatoes, mas é um capítulo genérico e não muito inspirado da série, que parece ter sido feito apenas pra aproveitar a onda atual de filmes protagonizados por super-heroínas.

Dark Phoenix / EUA / 2019 / Simon Kinberg

NOTA: 5.0

quarta-feira, 5 de junho de 2019

Chernobyl

O criador da série Craig Mazin fez sua carreira escrevendo comédias não muito respeitadas como Todo Mundo em Pânico 3 e 4 e as sequências de Se Beber, Não Case - o que nos faz pensar no quanto talento é uma coisa traiçoeira, pois nem sempre ele está naquilo que achamos que mais temos vocação pra fazer, e no caso de Mazin, foi necessário ir na direção oposta do que ele fez a vida toda pra descobrir onde estava escondido seu maior potencial.

Chernobyl é a nova mini-série da HBO que mostra as consequências do acidente nuclear de Chernobyl de 1986, considerado um dos maiores desastres causados pelo homem. Atualmente está em primeiro lugar no ranking de séries mais bem avaliadas do IMDb, acima de Breaking Bad e Game of Thrones, e realmente merece a aclamação que vem recebendo - a série basicamente faz para Chernobyl o que A Lista de Schindler fez para o holocausto em 1993. É um excelente suspense que funciona bem já no nível “filme-catástrofe”, mas quando é hora de focar em substância, a série mantém o mesmo nível de excelência e apresenta cenas, personagens e diálogos tão bem escritos que faz você duvidar de que se trata de um material inédito, escrito originalmente pra TV, e não uma adaptação de um best-seller consagrado. Sem nunca se tornar partidária ou perder o foco do drama humano, Chernobyl também consegue levantar discussões políticas relevantes e, ao explorar 1 único incidente, serve como alerta tanto para os perigos do capitalismo (possíveis problemas ambientais decorrentes da produção de energia) quanto para os perigos do socialismo (a ineficiência e os males de um governo autoritário e centralizado). Muito do mérito vai também pra direção de Johan Renck (famoso diretor de comerciais e videoclipes - como Hung Up da Madonna e Blackstar de David Bowie) que soube transpor o material para a tela da melhor forma, nos fazendo sentir os assombros da contaminação radioativa sem cair pro horror explorativo.

Chernobyl (EUA, Reino Unido / mini-série HBO / 2019)

NOTA: 10