sábado, 22 de fevereiro de 2014

Clube de Compras Dallas (anotações)

- Personagem nada admirável. Promíscuo, ignorante, inconsequente, etc. E pra piorar pega AIDS e vai morrer em 30 dias. A princípio não estou nada interessado em ver essa história.

- Matthew está bem e impressiona principalmente pelo físico. Não sei se ele está muito melhor do que sempre foi como ator (não achava ele ruim), mas com esse visual a performance parece bem mais marcante e corajosa.

- Conflito básico da luta pela sobrevivência garante um interesse mínimo pela história. O personagem não buscou por isso, então simpatizamos por ele.

- Jared Leto também está impressionante pela transformação física. Mas não sei se, fora isso, é uma grande performance dele. Me parece meio caricato e distante, talvez por culpa do roteiro, que não desenvolve bem o personagem.

- História melhora bastante depois que Matthew monta o clube e começa a lutar contra o governo pra distribuir os remédios. Ele fica limpo das drogas, passa a ter uma meta nobre - agora há um motivo melhor pra gente querer ver o filme.

- Não é só a aparência, Matthew realmente está bem!

- Interessante ele chamar a Jennifer Garner de "Nurse Ratched" - o filme lembra um pouco Um Estranho no Ninho mesmo e dramas dessa época.

CONCLUSÃO: Simples em termos de produção, direção, etc, mas um bom drama de sobrevivência com uma performance sensível de Matthew.

Dallas Buyers Club / 2013 / Jean-Marc Vallée

FILMES PARECIDOS: Milk - A Voz da Igualdade, Um Estranho no Ninho, Perdidos na Noite.

NOTA: 7.0

Nebraska (anotações)

- Fotografia preto e branca lindíssima! Que lente é essa?!

- A "meta" do protagonista é horrível: levar o pai idoso (com quem ele não tem uma boa relação) numa viagem de carro pra alimentar a ilusão de que ele ganhou 1 milhão de dólares. Não sei o que esperar de bom dessa história. Talvez se um laço bonito for sendo criado entre os dois (algo meio Philomena). Ou se tudo for tratado com muito humor (tipo Pequena Miss Sunshine).

- Filme é Naturalista - fala de pessoas ordinárias vivendo problemas ordinários. Mas pelo menos é narrado de maneira clara, há uma história definida, a produção é bonita, atores são bons, etc.

- As coisas concretas que vemos na tela são quase sempre negativas: alcoolismo, doença, velhice, parentes e amigos inconvenientes, cemitério, machucados, casas abandonadas, o filme se passa numa cidadezinha medíocre onde nada acontece - mas nada é de fato pesado ou violento. Filme tem imagens bonitas, uma trilha agradável, humor. É o que chamo de "pessimismo light" - uma visão negativa de vida, mas mostrada por um filtro bonito e "poético".

- Relação entre pai e filho tem momentos fofos e é o ponto mais positivo do filme.

- SPOILER: A cena do pai dirigindo o carro pela cidade é perfeita pra resumir o tema do filme - embora eu não admire muito o que ele (ou o filho) estejam fazendo. A mensagem acaba sendo: a vida é tão triste e sem esperança, deixe pelo menos ele viver uma ilusão de autoestima antes de morrer.

CONCLUSÃO: Filme naturalista com visão pequena e pessimista de vida - mas bem feito, com bons atores, e um relacionamento interessante entre os protagonistas.

FILMES PARECIDOS: Os Descendentes, Pequena Miss Sunshine, Sideways - Entre Umas e Outras, As Confissões de Schmidt, etc.

NOTA: 7.0

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Operação Sombra - Jack Ryan (anotações)

- Filme cria empatia pelo personagem logo nos primeiros minutos. Explica a motivação dele, mostra suas forças, suas vulnerabilidades também. Chris Pine faz bem esse tipo de herói.

- Boa a apresentação do vilão (criando suspense antes de mostrar o rosto dele).

- Uau, Kenneth Branagh além de diretor é o vilão do filme?

- Trama é distante e pouco envolvente. Filme não consegue tornar o tema político uma questão dramática e interessante pra plateia... O maior interesse mesmo é ver as cenas de ação e o herói se superando.

- Luta no banheiro do hotel muito bem feita. Gosto que a briga inclui elementos de banheiro (usar a água da banheira pra tentar afogar o cara, etc). Detalhes interessantes que um diretor pior não incluiria: o som de zumbido após a arma ser disparada muito próxima ao ouvido de Jack; os segundos em que Jack olha para o corpo do cara depois que ele morreu e parece refletir sobre o que fez (não trata o capanga como um objeto insignificante como muitos filmes fazem).

- Suspense bom quando Jack sai do restaurante pra invadir o computador do Viktor.

- SPOILER: Esposa raptada - filme sofre de certo excesso de clichês. Mas a ideia de estourar a lâmpada na boca é diferente e sinistra!

- SPOILER: Uau, sequência final da bomba muito intensa! Apesar da trama desinteressante, as sequências de ação são bem feitas e salvam o filme.

- Legal a sutileza no final de só mostrar a mão do presidente.

CONCLUSÃO: Thriller convencional e cheio de clichês, mas que ganha certa força pela direção competente de Kenneth Branagh.

(Jack Ryan: Shadow Recruit / EUA, Russia / 2014 / Kenneth Branagh)

FILMES PARECIDOS: Jack Reacher - O Último Tiro, O Legado Bourne, Busca Implacável, A Soma de Todos os Medos.

NOTA: 6.5

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Ela (anotações)

- Visão do futuro meio sombria mas a parte de tecnologia é interessante! A cena dele no chat com a outra mulher (do gato morto) é boa pra mostrar a frustração dele na vida pessoal - embora seja pouco provável que no futuro as pessoas usem chat apenas por áudio (pensando no Google Glass, o filme já parece um pouco ultrapassado).

- Maravilhosa a computadora! Muito carismática e cheia de personalidade. A relação entre os dois já funciona logo do começo. Não me lembro de um personagem tão convincente do qual só ouvimos a voz - exceto o HAL-9000, claro. Elenco ótimo, premissa interessante, diálogos inteligentes e sensíveis.

- Linda a cena em que ele está triste na cama e a Samantha anima ele. Ela é realmente apaixonante (isso é tão mais bem feito que Ruby Sparks!). Pena que o filme não explora o processo de criação dela. Queria saber mais dos critérios que o sistema usou pra criar um par perfeito pra ele. Filme não discute valores - por que motivos umas pessoa se atrai por uma e não por outra, etc.

- Amy Adams está bem em todos os filmes que ela faz? Jogo que ela inventa da "mãe perfeita" muito divertido. Roteiro é cheio de ideias criativas.

- Boa a discussão entre ele e a ex-mulher! Ela joga na cara dele o óbvio que a plateia já está pensando - que ele não consegue se relacionar com pessoas reais e resolveu sair com o lap-top!

- Interessante como, apesar da situação ser fantasiosa, o filme a aborda de uma maneira realista, socialmente falando. Quando ele fala pra ex que está saindo com um OS, a reação dela é como se ele estivesse saindo com uma menina muito mais nova e fútil. A reação dos amigos, é como se ele tivesse se assumido gay - reagem com excesso de naturalidade, como se quisessem enfatizar que não têm preconceito.

- Samantha não devia começar a ficar neurótica e pirar. Porque, se o relacionamento deles não der certo, isso vai ser só porque ela foi mal programada. Vai deixar sem resposta a pergunta fundamental do filme - é possível um relacionamento satisfatório entre uma pessoa e um computador?

- Filme faz a gente refletir, mas é cínico. Sugere que a tecnologia é tão maligna que irá fazer mesmo um homem sensível como Theodore eventualmente abandonar as relações interpessoais - algo que não acredito.

- SPOILER: Final parece sugerir que ele e Amy Adams é que deviam ser um casal - e que eles só não estão juntos pois a tecnologia ("vilã") criou experiências tão idealizadas que um relacionamento real passou a ser frustrante. É como se o filme dissesse: esse tipo de felicidade não existe - fique com pessoas pelas quais você não está apaixonado, se não você terminará sozinho.

CONCLUSÃO: Retrato brilhante e sensível de um relacionamento entre um homem e uma máquina (e de relacionamentos em geral). Só discordo um pouco do tom de crítica à tecnologia.

(Her / EUA / 2013 / Spike Jonze)

FILMES PARECIDOS: O Mestre, Ruby Sparks, Meia-Noite em Paris, O Curioso Caso de Benjamin Button, Adaptação, etc.

NOTA: 8.0

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Uma Aventura Lego (anotações)

- Essa animação é stop-motion??? Se for é algo realmente notável. Mas mesmo que não seja, é diferente e interessante visualmente. Só sinto falta de expressões faciais... Parece que estamos olhando pra objetos de plástico mesmo, não pra personagens.

- Crítica à sociedade superficial e preconceituosa. Só porque muitas pessoas se comportam de uma forma parecida ou gostam de uma mesma música, isso não significa que elas estão erradas ou que não têm senso crítico. Uma pessoa que ouve música alternativa também pode ser perfeitamente "robótica" e dependente das normas sociais - ela apenas quer pertencer a um clube menos popular. A música "Everything is Awesome" é pra zombar do pop, dando a impressão de que algo divertido é necessariamente inferior culturalmente. Nada mais contraditório do que esses valores anti-indústria estarem sendo usados pra vender Lego.

- Personagem principal realmente é um Zé Ninguém. Não é carismático e não me faz torcer por ele (todo o filme tem uma atitude anti-herói que ele parecer achar original e subversiva - mas se você for pensar, hoje em dia isso é que é o convencional).

- Filme quer envolver a plateia numa aventura épica tipo Star Wars (e usa os recursos narrativos desse tipo de história) ao mesmo tempo em que tira sarro e cospe na cara desse gênero de filme.

- Roteiristas não têm muito filtro - qualquer ideia parece ser válida desde que seja maluca e fora de contexto (tipo: Wyldstyle namora o Batman). Não é um nonsense inteligente como Os Simpsons, por exemplo.

- Filosofia anti-individualismo. O filme quer que as pessoas trabalhem apenas em grupo, que pensem em conjunto - é contra a pessoa de talento, qualquer um que se destaque. Apesar disso, isso não impede o filme de tentar passar uma mensagem inspiradora no final - mas como ninguém pode ser especial, pois isso seria individualismo, a mensagem é uma contradição: "todos nós somos especiais" (teria gostado se o filme dissesse "todos nós temos potencial" ou algo do tipo).

CONCLUSÃO: Interessante como animação e há algumas ideias criativas, mas os valores por trás do filme são cínicos e contraditórios.

FILMES PARECIDOS: Kick-Ass, Os Simpsons: O Filme, Scott Pilgrim Contra o Mundo.

NOTA: 4.0

domingo, 9 de fevereiro de 2014

A Menina que Roubava Livros (anotações)

- Produção maravilhosa! Imagens muito bonitas - e trilha do John Williams é sempre um encanto pros ouvidos.

- Menina principal muito linda e carismática. Lembra um pouco a Drew Barrymore quando era criança. Filme consegue criar uma empatia imediata por ela (a sede por conhecimento + o fato dela não saber ler, sofrer bullying, etc).

- Relação dela com o pai adotivo muito doce e pura. Até por haver o contraste com a mãe que é dura e pouco afetuosa.

- Tema do filme (vida sob o nazismo) não tem nada de novo, mas o nazismo visto pelo ponto de vista de alemães inocentes é um ângulo diferente e interessante (O Menino do Pijama Listrado tinha um pouco disso, mas aqui o tema é explorado de uma forma mais ampla).

- Narração feita pela Morte parece deslocada. É algo fantasioso demais pra essa história, e além disso o tom de ironia não combina com o resto do filme.

- Interesse incomum dela por livros se torna compreensível após as primeiras cenas na escola, pois vemos que ler pra ela significa não ser mais considerada burra, não ser mais humilhada, etc.

- Amizade entre ela e Max também é muito doce, assim como a dela com o pai. Adoro o fato de Max ser grato e não reclamar, mesmo vivendo em condições terríveis. Personagens são muito íntegros.

- Falta talvez um objetivo mais específico pra protagonista. Roteiro acaba sendo meio episódico - não sabemos direito se há uma mensagem ou pra que direção ele está indo.

- Legal como a Emily Watson começa como uma megera mas depois se transforma. Boa forma de enfatizar o espírito de benevolência do filme.

- Assim como a narração, o final também parece estranho e forçado. É algo ousado demais pra um filme tão convencional e pouco intelectual.

CONCLUSÃO: Tem alguns problemas de tom, mas em geral é um drama bem intencionado e bem produzido sobre o nazismo, contado por um ponto de vista diferente.

(The Book Thief / EUA, Alemanha / 2013 / Brian Percival)

FILMES PARECIDOS: Cavalo de Guerra, O Caçador de Pipas, A Vida É Bela, Império do Sol, etc.

NOTA: 7.5

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

12 Anos de Escravidão (anotações)

- Direção estranha no começo. Saltos no tempo, cenas incompreensíveis. Filme dá uma desorientada na plateia, como se quisesse anunciar que ele é contra narrativas tradicionais.

- Fotografia bonita. Ator principal bom.

- Homem 100% inocente sendo injustiçado por pessoas 100% más. Não há muito o que discutir moralmente.

- Personagens são um pouco superficiais e mal apresentados, como se você tivesse pego a história da metade pra frente.

- História é batida - será que o filme trará algo de novo ao tema da escravidão?

- Brancos são caricatos. Nível de crueldade deles é incompreensível. Claro que existiam pessoas más na época, mas esse nível extremo de psicopatia nunca é gratuito, acaba soando falso psicologicamente. Filme não revela as motivações dos personagens. Apenas diz: o ser humano pode ser mau, e não há explicações.

- Não há um enredo interessante. Filme é monótono. Vemos uma cena de um escravo sofrendo nas mãos de um branco, depois outra, depois outra, depois outra. É a mesma mensagem repetida o filme inteiro. E o foco é no mal... Protagonista é uma vítima que tem pouco o que fazer na história, o que o torna desinteressante. Objetivo do filme é contemplar o sofrimento e a maldade humana - e ele o faz de maneira grosseira, pouco convincente. Não há caracterizações interessantes, diálogos inteligentes.

- Se o filme tivesse uma direção mais tradicional, provavelmente ele teria sido esnobado pela crítica. É o elemento de Subjetivismo na direção (saltos no tempo, edição estranha...) que faz ele parecer moderno e "artístico".

CONCLUSÃO: Filme tem uma performance central forte e envolve pelo lado emocional (é difícil não sentir pena dos personagens) mas é pobre em narrativa, conteúdo, originalidade, etc.

FILMES PARECIDOS: A Paixão de Cristo.

NOTA: 6.5

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Trapaça (anotações)

- Começo do romance entre Amy Adams e Christian Bale muito envolvente e intenso!

- Todos os atores estão bem / direção boa / fotografia boa / trilha sonora boa - filme todo é bem produzido e de bom gosto.

- Jennifer Lawrence ótima na primeira cena. Ela e Bale têm boa química também. Filme consegue criar relacionamentos fascinantes entre todos os personagens.

- SPOILER: Moralmente, simpatizo mais por esse filme do que pelo O Lobo de Wall Street, por exemplo. Apesar dos personagens aqui serem trapaceiros e também serem carismáticos, o filme não parece glamouriza-los da mesma forma. O próprio Bale já começa sendo apresentado como  um loser (bem fora de forma, fazendo aquele penteado ridículo). E eles parecem reconhecer que são imorais. São exceções (filme não é uma crítica generalizada à natureza humana, ao sucesso, etc). Além disso, eles são pegos logo no começo e durante a maior parte do filme estão do lado dos mocinhos, ajudando o FBI.

- Trama (prefeito, máfia, etc.) não é muito envolvente e é complicada de acompanhar. Filme se mantém interessante mais por causa dos relacionamentos e do estilo.

- Jennifer Lawrence diverte mas às vezes exagera. Amy Adams está mais controlada no papel.

- Roteiro não é muito sério - não discute a fundo questões morais, etc. Diretor parece mais estar brincando de Scorsese / Paul Thomas Anderson. Apesar de muito bem realizado, às vezes sinto como se fosse um exercício de estilo. Que o diretor não está de fato interessado no conteúdo do filme. É como esses atores infantis que aprendem todos os maneirismos de atores adultos, e às vezes conseguem realizar performances impressionantes, mas que acabam sempre parecendo um pouco vazias e superficiais.

CONCLUSÃO: Trama não muito envolvente, mas filme se destaca pela produção e pelos ótimos atores e personagens.

(American Hustle / EUA / 2013 / David O. Russell)

FILMES PARECIDOS: O Lobo de Wall Street, Argo, O Gângster, Boogie Nights, Os Bons Companheiros, etc.

NOTA: 7.5