segunda-feira, 29 de junho de 2015

Minions


Me parece sempre uma má ideia pegar personagens cômicos coadjuvantes de um filme ou série e torná-los protagonistas num outro projeto (assim como fizeram na série exclusiva do Joey, ou no show da Megan Mullally, etc). É preciso entender que, por melhor que seja um molho, normalmente você não quer jogar fora a comida e comer só o molho. Acho os Minions simpáticos, entendo o sucesso deles, mas aqui simplesmente faltou um roteiro mais interessante, ideias melhores, piadas mais engraçadas... Até o conceito dos personagens fica um pouco confuso - teoricamente eles adoram vilões, mas na prática acabam lutando contra a vilã Scarlett Overkill e sendo bonzinhos na história.

Enfim, me senti vendo um desenho qualquer no Cartoon Network, e não algo apropriado pra uma sala de cinema cheia. É mais um projeto caça-níquel, algo puramente comercial feito pra fazer dinheiro fácil em cima dos personagens, mas sem muito valor de entretenimento.

(Minions / EUA / 2015 / Kyle Balda, Pierre Coffin)

FILMES PARECIDOS: Cada Um na Sua Casa / Meu Malvado Favorito / A Era do Gelo / Os Smurfs

NOTA: 4.0

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Ex Machina


ANOTAÇÕES:

- Imagens / locações incríveis! Onde isso foi filmado?? A casa é sensacional. Todo o design de produção é muito bom (ainda mais quando você leva em conta que não é uma super-produção).

- Começo bem interessante (o bilionário trazendo o garoto pra mansão, o projeto secreto envolvendo inteligência artificial, etc). É surpreendente o Nathan ser um cara jovem, esportivo (ainda tenho a mentalidade antiga de que grandes empresários são senhores usando ternos!).

- Incrível o robô! Efeitos especiais excelentes. Ava parece sensível, inteligente e ao mesmo tempo perigosa, quase como um HAL-9000.

- Conversa sobre arte e Pollock é pretensiosa. Não concordo com o que o Nathan diz, e isso não tem a ver com o tema filme.

- A discussão deveria ser mais sobre metafísica: Ava tem ou não uma consciência? O que é consciência? Qual a diferença de uma mente humana pra uma máquina que imita as mesmas operações? Ava tem livre-arbítrio? O filme mal entra nessa discussão. O experimento todo só serve pra ver se Ava "engana" como humana. Mas mesmo que ela passe no teste, isso não prova nada que ela tem uma consciência.

- O roteiro fica um pouco arrastado a partir do meio. Além da discussão filosófica ficar na superfície, emocionalmente o filme também não promete muito: não chega a virar um romance, nem um suspense/terror. É um filme de "atmosfera". O objetivo parece ser criar imagens bonitas e passar uma visão pessimista da tecnologia e dos negócios. Mas pelo menos tem bons atores e diálogos interessantes.

- SPOILER: Algumas ideias não convencem. Será que um lugar tão high-tech iria usar esse sistema antiquado de chaves pra abrir portas? Seriam possíveis todos esses cortes de energia? Nathan basearia mesmo toda a aparência de Ava na pornografia de um funcionário?

- SPOILER: Era pra ser surpresa que a Kyoko é um robô? Isso já era óbvio desde que ela apareceu! A "surpresa" de que o Nathan estava ouvindo as conversas durante os cortes de energia também é bastante previsível.

- SPOILER: Não faz sentido o Caleb planejar fugir com Ava. Ele está apaixonado por ela? Não sentimos isso. Na prática a relação entre os dois é bem esquisita e sombria (é diferente do filme Ela onde é possível acreditar que o cara está se apaixonando pelo computador). Caleb acha o Nathan imoral por manter Ava presa? Por que? Os dois nem discutem sobre isso. O diretor parece apenas querer criar conflitos entre os personagens, só que ele não consegue justificar muito bem esses conflitos. 

- Se tudo o que Ava quer é escapar, por que ela já não atacou o Nathan quando ele entrou no quarto dela? Se ela tem poder sobre toda a energia da casa, ela não conseguiria simplesmente abrir as portas? Não se trata de uma prisão de segurança máxima. Todo o clímax parece forçado e acaba sendo insatisfatório.

CONCLUSÃO: Premissa interessante, ótimo visual, mas o roteiro é mal desenvolvido e todo o final não convence.

(Ex Machina / Reino Unido / 2015 / Alex Garland)

FILMES PARECIDOS: Sob a Pele / Ela / Planeta dos Macacos: A Origem / Sunshine - Alerta Solar / Solaris (2002)

NOTA: 6.0

quarta-feira, 17 de junho de 2015

Divertida Mente

ANOTAÇÕES:

- Conceito muito divertido. Lembra o curta Reason and Emotion e um pouco o segmento dos espermatozoides de Tudo o Que Você Sempre Quis Saber Sobre Sexo E Tinha Medo de Perguntar, mas ainda assim é uma ideia bastante diferente. Os diálogos iniciais entre as emoções são ótimos.

- Não dá pra se envolver com o drama da menina Riley, afinal ela não parece uma pré-adolescente, e sim uma marionete controlada pelas emoções em sua mente. Também não dá pra se identificar muito com os personagens das emoções, afinal elas são caricaturas, não têm vida própria, não podem ser destruídas, etc.

- A ideia funcionaria mais pra um curta ou pra um sketch do que pra um longa. Mas como é de se esperar da Disney/Pixar, toda a parte visual é incrível, a direção também, o tema musical principal é muito bonito, etc.

- SPOILER: O filme é cheio de sacadas divertidas: a ideia da Alegria e da Tristeza saírem da sala de comando quando a Riley fica deprimida (mostrando que ela está emocionalmente "anestesiada"); a cena em que a Nojinho tenta se passar pela Alegria e não dá certo; a música do comercial de chiclete que não sai da cabeça; as memórias das aulas de piano que vão sendo excluídas, etc. O problema é que filme parece mais uma coleção de sacadas do que de fato uma boa história. O roteirista fica fazendo "malabarismo conceitual", mas os personagens e a história não são reais o bastante pra gente se importar.

- Não dá pra se envolver com a viagem da Alegria e da Tristeza como se fosse um road movie, uma jornada física, real, afinal sabemos que essas emoções não podem sumir pra sempre, e não podem ficar tanto tempo assim fora da sala de controle. Como ação não funciona. O que prende são as inúmeras observações psicológicas que vão sendo jogadas ao longo da narrativa.

- Será que mudar de cidade é uma experiência tão traumática assim, a ponto de destruir todas as "ilhas" da Riley? Acho que ela poderia estar passando por algo realmente grave, algo que desse à história um senso maior de importância.

- O filme é criativo, esperto, mas não é exatamente profundo em suas ideias. Ele não nos diz nada de realista e útil a respeito da mente. Não diz o que leva uma pessoa a ficar triste, o que podemos fazer pra ficarmos alegres, etc. Sugere apenas que somos controlados por nossas emoções, o que é uma mensagem ruim. E onde está o personagem da Razão? O do Livre Arbítrio? O curta Reason and Emotion do Walt Disney tem uma visão bem mais sensata e positiva de como funciona a mente.

- SPOILER: Outra mensagem negativa é a de que a Tristeza não deve ser superada - que ela deve ter uma participação constante em nossas vidas para que a Alegria seja possível. Isso seria como dizer que a doença deveria participar tanto das nossas vidas quanto a saúde. Claro que doença faz parte da vida, assim como a tristeza, mas isso não quer dizer que o natural seja carregá-las conosco diariamente, que "equilíbrio" signifique ter um pouco das duas coisas em todas as nossas experiências.

CONCLUSÃO: Criativo e bem feito tecnicamente, mas o conceito teria sido mais apropriado pra um curta do que pra um longa. 

(Inside Out / EUA / 2015 / Pete Docter, Ronaldo Del Carmen)

FILMES PARECIDOS: Universidade Monstros / Toy Story 3 / WALL-E / Ratatouille

NOTA: 7.5

sábado, 13 de junho de 2015

Sangue Azul

ANOTAÇÕES

- Nunca é um bom sinal quando vemos vômito na primeira cena...

- Daniel de Oliveira é bom e está lindíssimo (dá até pena de ver tanto potencial usado num filme desse gênero). Daniel e as paisagens bonitas de Fernando de Noronha tornam o filme minimamente agradável de assistir. Mas o personagem não convence muito. Como ele ganhou dinheiro e viajou o mundo todo com roupas elegantes, etc? Sendo homem-bala num circo de quinta categoria?

- Naturalismo / monotonia / falta de enredo: o filme parte da premissa que retratar uma cultura, uma comunidade, já é motivo o bastante pra se fazer um filme - mesmo que essa comunidade não tenha nada de especial. Na verdade, o fato de não haver algo de especial parece ser o que motiva o cineasta: ele está passando a mensagem de que todas as culturas são equivalentes, igualmente interessantes, que não é preciso ter nada de "especial" pra ser tema de um filme, que não podemos julgar, que devemos ter tanto respeito pelo circo mostrado no filme quanto pelo Cirque du Soleil, etc.

- Mas o cineasta não quer entediar totalmente o espectador: então ele apela frequentemente pra cenas de sexo e corpos bonitos pra prender a atenção. Se o filme fosse consistente, ele teria usado atores menos atraentes e criado cenas de sexo feias.

- Visão negativa das pessoas, do mundo, dos relacionamentos. Os personagens não têm vidas interessantes, parecem decadentes, parados no tempo.

- O filme tenta adquirir profundidade através de frases soltas ditas pelos personagens, o que soa preguiçoso. E as frases são sempre pessimistas ("A certeza plena é a maior covardia... Apenas a dúvida e o risco colocam em movimento").

- Por que o Daniel de Oliveira trata a mãe com frieza? Não entendemos direito e soa artificial... O filme se contenta em passar a impressão de que as relações são "complexas" e a vida é feita de traumas.

- Longo demais pra esse tipo de narrativa. A plateia já está entediada na Parte 4 e o filme continua filmando coisas monótonas, a água pingando na pia por 1 minuto, etc. No fim, pra apelar, joga uma cena de sexo gay, depois uma outra de incesto, e acha que teve um clímax.

CONCLUSÃO: Filme tedioso, com valores negativos, que só tem um pouco de encanto por causa das paisagens e do carisma pessoal do Daniel de Oliveira.

(Sangue Azul / Brasil / 2015 / Lírio Ferreira)

FILMES PARECIDOS: O Palhaço / 360

NOTA: 2.5

quinta-feira, 11 de junho de 2015

Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros

ANOTAÇÕES:

- Ótima a "pisada" do pássaro, rs. 

- O filme tenta criar um grande momento na apresentação do Jurassic World, mas não chega a ser tão empolgante essa sequência inicial. É diferente do primeiro filme, onde os paleontólogos nem sabiam da existência dos dinossauros e estavam prestes a ter o maior choque de suas vidas. De qualquer forma, é muito legal ver o parque pronto e finalmente funcionando!

- Ao mesmo tempo, o filme parece ter consciência de que ele não pode repetir o mesmo tipo de impacto de Jurassic Park: é inteligente ter um personagem como o irmão mais velho nesse começo (alguém que está entediado com o passeio), assim como o diálogo onde a Bryce Dallas Howard diz que ninguém se impressiona mais com dinossauros em 2015. O filme reconhece as emoções do espectador e assim consegue se reconectar com ele.

- A produção é muito bem feita, mas não tão requintada - soa menos caprichosa que a dos 2 primeiros filmes em termos de roteiro, direção, fotografia, provavelmente pela ausência de Spielberg na direção. 

- Há alguns problemas no elenco e no desenvolvimento dos personagens. A Bryce Dallas Howard me parece errada no papel - ela não está carismática e não convence como frígida ou como alguém que trabalha nesse lugar. Parece uma chata, e não torcemos pra que ela se aproxime dos sobrinhos nem que se envolva com o Chris Pratt. Chris já está excelente e torna o filme mais agradável e respeitável quando aparece. O garotinho Ty Simpkins funciona bem, mas o irmão mais velho não convence muito como adolescente rebelde - parece distante e mal aproveitado (teria sido mais legal se ele fosse um bully / alguém menos passivo).

- SPOILER: As cenas de ação/suspense são muito boas! Chris Pratt na jaula dos Velociraptors, e depois na jaula do Indominus Rex. É um pouco forçado eles entrarem ali, mas acaba criando um momento tenso e uma ótima entrada pro "vilão" (boa a ideia dele poder se camuflar).

- SPOILER: Depois que o Indominus foge (com os turistas no parque e os garotos à solta) o filme já tem uma situação tensa e divertida o bastante pra prender a gente até o final (isso parece simples, mas tantos filmes já falham nesse "set up" da história, que é importante reconhecer que isso é um mérito do roteiro!).

- SPOILER: Legal eles encontrarem o prédio antigo, objetos do primeiro filme, andarem no jipe, etc. O filme acaba sendo uma sessão-nostalgia, levando a gente de volta pro universo do Jurassic Park (desde o começo estamos vendo vários elementos do filme de 93 - as imagens do helicóptero, a música, o cientista feito pelo mesmo ator, o boneco do DNA, etc). 

- Um pouco forçado a Bryce ir junto com o Chris Pratt resgatar os sobrinhos de salto alto e sem mais ajuda. Não é como no filme antigo, onde eles estavam sem comunicação, sem luz, e não havia ajuda na ilha. A cena em que ela ajusta as roupas e "arregaça as mangas" não funciona - ela não era pra ser engraçada e esse não é um bom momento pra se ter humor. 

- SPOILER: Chocado que o dono do parque morre no helicóptero! Ótima ideia os dinossauros voadores fugirem. A sequência do ataque aos turistas lembra Os Pássaros (1963)... Mas por que ninguém se abriga dentro dos prédios??

- SPOILER: Estratégia de usar os Velociraptors pra caçar o Indominus Rex não convence. Teria sido uma boa alternativa se o Chris Pratt estivesse sozinho na ilha contra o Indominus, mas com tanta gente, com tantas armas, isso não parece plausível. Ainda assim, é divertido ver o herói na moto liderando os Velociraptors. Muitas das sequências do filme seguem esse padrão: não parecem muito plausíveis a princípio (Chris entrar na jaula do Indominus Rex, os irmãos fugirem na bolha de vidro, Bryce e Chris irem resgatá-los sozinhos, o prédio do primeiro filme ainda existir) mas no fim acabam gerando bons momentos. Os roteiristas têm as ideias certas, mas não se esforçam o bastante pra torná-las 100% plausíveis no contexto da trama (e isso não seria tão difícil).

- Sinto falta daqueles momentos mais "quietos" do Jurassic Park onde os personagens conversavam, conviviam, paravam um minuto pra respirar (por exemplo quando o Alan e as crianças dormiam na árvore, ou quando o Hammond e a Ellie tomavam sorvete no refeitório, etc). Os personagens não estão à altura dos do primeiro filme, mas ainda assim têm o espírito certo.

- SPOILER: Boa reviravolta os Velociraptors se juntarem ao Indominus contra os humanos.

- SPOILER: Fantástico a Bryce ir buscar o T-Rex com o sinalizador! Essa é mais uma cena que poderia ser mais plausível (Bryce jamais iria se arriscar tanto) mas que acaba criando um bom momento.

- SPOILER: OK, o Mosassauro pular da água e comer o Indominus Rex foi um pouco desnecessário! Rs.

CONCLUSÃO: Ótimo blockbuster de verão que não tem o mesmo nível de inteligência e maestria do primeiro filme, mas ainda assim é muito divertido e digno da série.

(Jurassic World / EUA, China / 2015 / Colin Trevorwood)

FILMES PARECIDOS: Prometheus / Avatar / Star Trek (2009) / 2012 / King Kong (2005) / Jurassic Park 1 e 2

NOTA: 8.5

segunda-feira, 8 de junho de 2015

Sense 8 (Série de TV)

Parecia uma história intrigante e envolvente de ficção-científica sobre pessoas com super-poderes mentais, mas infelizmente (baseado nos 3 primeiros episódios) essa premissa é muito mal apresentada, mal escrita, e a série acaba se tornando mais uma novela com personagens pouco admiráveis, cujo objetivo é fazer propaganda de valores pós-modernos - promovendo misticismo, coletivismo, tribalismo, vitimização, preconceito e conflito entre grupos. Sem falar na glamourização das drogas, no apelo pra violência, pro sexo... É incrível como o Senso de Vida das séries de TV americanas costuma ser bem mais negativo que o do cinema - um mau sinal, afinal a TV parece ser ainda mais precisa e atual ao refletir os valores predominantes na cultura.

(Sense8 / 2015- / J. Michael Straczynski, Andy Wachowski, Lana Wachowski)

sábado, 6 de junho de 2015

Tomorrowland: Um Lugar Onde Nada É Impossível

Como um grande fã da filosofia do Walt Disney e da visão do futuro que ele criou em seus parques, esse era um dos filmes que eu estava mais curioso pra ver esse ano. Além disso, o filme é dirigido pelo Brad Bird (de O Gigante de Ferro e Os Incríveis) que é muito influenciado pelo Steven Spielberg (meu cineasta favorito), e que já foi várias vezes "acusado" de promover em seus filmes ideias da Ayn Rand (que é uma grande referência filosófica minha). Ou seja, vários dos temas principais do meu universo cultural pareciam se juntar nesse projeto, quase como se eu tivesse mandado fazer um filme sob encomenda pra mim. Infelizmente o que parecia fantástico no papel não se traduziu pras telas da maneira que eu gostaria.

Falando primeiro do lado positivo, eu gosto muito do universo em que o filme se passa - do mundo dos grandes inventores, da visão otimista da tecnologia e do futuro (amei o detalhe da música do Carrossel do Progresso no início do filme); algumas ideias pras tecnologias de Tomorrowland são muito legais (por exemplo as piscinas flutuantes); e acho legal a crítica ao pessimismo, ao cinismo e a toda a histeria ambientalista.

Dito isso, há tantas coisas insatisfatórias no filme que fica difícil apontar o que é o mais grave... Fica a sensação de uma bagunça que você não sabe por onde começar a arrumar.

1) Personagens e Relacionamentos: Pra começar, não gostei muito dos personagens principais (George Clooney e Britt Robertson), que não têm um pingo de seriedade e não convencem como grandes sonhadores que querem mudar o mundo. Eles estão sempre discutindo de maneira cômica, agindo de maneira imatura, como se fossem adolescentes irresponsáveis numa excursão ao Hopi Hari. E não há uma boa construção de personagens, uma dimensão mais pessoal que crie um mínimo de conexão com o drama e os sonhos dessas pessoas. A personagem da Casey supostamente é muito "especial", mas não vemos ela fazendo nada de especial, apenas invadindo a NASA pra tentar impedir de maneira burra o fim do programa espacial. Talvez ser "idealista" já seja o bastante pra te levar a Tomorrowland (mas será que seria tão difícil encontrar idealistas desse tipo?). Frank é também um menino especial pois consegue inexplicavelmente construir um "jetpack" apesar de ser uma criança. E quando o pai questiona por que ele acha que aquilo irá funcionar, o menino responde "porque eu sou otimista!" (não porque ele tenha qualquer conhecimento científico sobre o que está fazendo). Clooney e a relação que ele tem com a garotinha Athena também não convence (apesar da atriz Raffey Cassidy ser uma das melhores coisas do filme) - será mesmo que depois de velho, Frank ainda estaria transtornado com o amor não-correspondido de 50 anos atrás? De um robô?

2) Narrativa Ruim: o filme não consegue criar magia, um senso de encantamento que faça a plateia querer ir pro mundo de Tomorrowland. Por mais que a concepção da cidade seja interessante, tudo parece ser mostrado cedo demais. Os personagens nem sabem da existência de tal lugar, e no minuto seguinte já estão lá voando em propulsores a jato e revelando o cenário inteiro pro espectador. Sem falar que o filme já parte de um ambiente fantástico: começa no futuro, com Clooney narrando a história em flashback; depois vamos pra Feira Mundial nos anos 60, que já é um cenário bastante exótico - ou seja, não há um grande impacto quando a gente finalmente chega em Tomorrowland.

Mais pro fim, há toda aquela sequência na Torre Eiffel que não funciona. É uma ideia ruim eles usarem uma tecnologia avançadíssima de teletransporte só pra levá-los até a Torre Eiffel, pra daí eles poderem usar uma tecnologia de séculos atrás e só assim sim conseguirem chegar em Tomorrowland. Soa bagunçado, burro (o simples fato da Torre Eiffel ter um papel importante numa história tão americana já é estranho). E nesse ponto a plateia já esteve várias vezes em Tomorrowland. Não é mais novidade. É um anticlímax o filme criar uma sequência tão grandiosa apenas pra levar a gente pra lá mais uma vez.

E toda a parte final do filme parece corrida e mal explicada. Por exemplo: Casey descobre em poucos minutos que o Monitor está mandando mensagens pessimistas pra Terra. Como ela chegou a essa conclusão? Por que Frank e os cientistas de Tomorrowland nunca pensaram nisso?

3) Ideias Mal Elaboradas / Intelectualmente Limitadas: O filme é cheio de ideias confusas e mal concebidas: como uma civilização como Tomorrowland, desenvolvida pelos maiores gênios do planeta, de repente entrou em colapso? De quem é a culpa? As pessoas foram expulsas de lá pelo Nix? Não ficaram pra proteger as próprias criações? O sonho delas era tão fraco assim? Se o Nix era um dos líderes de Tomorrowland, por que ele virou "do mal"? Ele não está certíssimo em querer impedir que a humanidade entre em Tomorrowland e a destrua como fez com a Terra? Ele subverteu os valores dos "Plus Ultra" originais? Ou o filme quer dizer que essa sociedade era instável por natureza? O que isso quer dizer politicamente? E por que o Monitor criado por Frank trouxe consequências negativas? Quer dizer que a tecnologia é algo perigoso que pode levar o mundo à destruição? Isso não vai contra a intenção do filme de mostrar Tomorrowland como a civilização ideal?

O filme tinha tanto potencial, tantas coisas interessantes. Brad Bird começou com uma visão positiva, com um conceito pra palavra Tomorrowland e a emoção que ela evocava, e ele tentou fazer um filme ao redor dessa emoção. Mas assim como o garotinho precisava mais do que otimismo pra construir o seu jetpack, Bird precisava mais do que boas intenções pra traduzir essa emoção em um bom filme.

(Tomorrowland / EUA, Espanha / 2015 / Brad Bird)

FILMES PARECIDOS: O Destino de Júpiter / Interestelar / Círculo de Fogo / Depois da Terra / Super 8

NOTA: 5.5

quarta-feira, 3 de junho de 2015

O Declínio de Originalidade em Hollywood

Um gráfico interessante que mostra o declínio dos filmes originais entre os maiores sucessos de bilheteria do ano.

Será que os estúdios de Hollywood estão cada vez mais medrosos, apostando apenas em projetos que já têm um retorno financeiro garantido - sequências, remakes, reboots, adaptações de quadrinhos, brinquedos e livros de grande sucesso? Ou será que os filmes originais continuam sendo produzidos na mesma quantidade, apenas não estão chegando ao top 10, pois o público prefere histórias mais familiares?

Vale notar que nesse gráfico eles foram "bonzinhos" com a atual situação. Por exemplo, no ano de 1993, o gráfico diz que entre as 10 maiores bilheterias do ano, 5 eram filmes originais. Pra ser preciso, apenas 4 eram originais: O Fugitivo, Risco Total, Sintonia de Amor e Filadélfia. Os outros 6 filmes eram adaptações de livros: Jurassic Park, Uma Babá Quase Perfeita, A Firma, Proposta Indecente, O Dossiê Pelicano e A Lista de Schindler - mas todos eram livros "parte 1", em geral escritos por autores experientes e respeitados.

20 anos depois, em 2013, há apenas 2 filmes originais no top 10: Frozen e Gravidade. Mas vejam como são os outros 8 filmes: Homem de Ferro 3, O Homem de Aço, Meu Malvado Favorito 2, O Hobbit 2, Jogos Vorazes 2, Velozes e Furiosos 6, Universidade Monstros, e Thor 2 - um pouco diferente de filmes "não-originais" como Jurassic Park e A Lista de Schindler, não acham? No fundo minha preocupação não é nem com a originalidade e sim com a qualidade média dos filmes.

É interessante que, apesar de eu estar sempre reclamando que os filmes estão mais sombrios, mais violentos, se você for ver, no fundo há uma certa infantilização do cinema. Muita coisa hoje em dia é voltada pro público infantil e adolescente (ou adulto com mentalidade adolescente). Isso apoia minha noção de que todo esse tom dark no fundo é pra tentar disfarçar e "compensar" a natureza juvenil dos filmes, assim como um adolescente às vezes apela pra um visual agressivo pra que ninguém perceba que ele mal saiu da infância.

E apesar de eu estar sempre falando mal das animações, é preciso dizer que boa parte dos filmes originais de sucesso da atualidade são filmes como Frozen, Valente, Up, Enrolados, Kung Fu Panda - então ponto pra Disney/Pixar e pros outros estúdios de animação por pelo menos manterem o nível de originalidade acima do zero nas estatísticas.

Fica a pergunta no ar: por que filmes como O Dossiê Pelicano antigamente faziam tanto dinheiro quanto filmes infantis ou produções com Stallone/Schwarzenegger - e filmes da mesma categoria hoje em dia não chegam nem perto do Top 10? Isso porque estamos falando dos anos 90, onde a mentalidade "blockbuster" dos estúdios já estava bem estabelecida. A coisa fica ainda mais estranha quando você começa a considerar décadas anteriores.

Lembrando: eu sou totalmente a favor de blockbusters, de filmes infantis, de filmes estrelados por ex-fisiculturistas, etc. A questão aqui não é a existência desses filmes, e sim o nível de seriedade e imaginação com que eles são feitos - e também a diminuição relativa de público pra filmes de temática mais adulta.

segunda-feira, 1 de junho de 2015

Mad Max: Estrada da Fúria (2ª Vez)

Fui rever o filme e, passado o impacto inicial, percebi que há pouco que sobra na produção pra eu de fato gostar... Continuo achando a fotografia impressionante, as cenas de ação engenhosas, o som ótimo, a direção de arte e a edição muito bem feitas... Há várias coisas aqui dignas de indicação ao Oscar. Mas as qualidades essenciais que eu mais valorizo em filmes (personagens cativantes, uma boa narrativa...) não estão presentes, tornando o filme desinteressante depois que você já viu a primeira sequência onde um grupo de pessoas corre atrás de outro grupo de pessoas. O resto é mais do mesmo. Além disso, todo esse culto ao agressivo, ao grotesco, ao desagradável, é algo que realmente me entedia. Vou tirar 1 ponto da minha nota inicial.

(Mad Max: Fury Road / Austrália, EUA / 2015 / George Miller)

NOTA: 7.0