Se esse filme chegar na temporada de prêmios como um dos favoritos, como muitos críticos vêm apostando, eu vou sentir falta dos "bons tempos" de
Nomadland,
A Forma da Água, quando o Oscar dava prêmios pra filmes com valores negativos, qualidade estética duvidosa, mas que pelo menos não eram constrangedoramente idiotas.
O Brutalista parece a noção de uma tiktoker de 15 anos do que seria um filme "denso", de temática "adulta". Temos sobreviventes do holocausto com nomes tipo László, Erzsébet, Zsófia, sussurrando frases melodramáticas com sotaque húngaro, uma saga de 3h30 que abrange várias décadas, com uma crítica ao Sonho Americano embutida, sequências de créditos desconstruídas que rolam em todas as direções exceto de baixo para cima; tudo soa extremamente "europeu" — até que a maturidade de tiktoker começa a se revelar na tolice dos diálogos, na falta de noção sobre a era retratada (o comportamento dos personagens e a direção de arte permitem uma margem de uns 30 ou 40 anos de imprecisão histórica). Dizem que ao escrever um livro ou dar uma palestra você deveria saber 10 vezes mais sobre o conteúdo do que aquilo que irá de fato apresentar. O Brutalista passa a impressão de saber 1/10 das coisas que discute: como age um arquiteto, como era a vida de um imigrante nos EUA nos anos 40/50, como empresários ricos vivem e fazem negócios, como adultos falam...
O filme é
Pseudo-Sofisticação em esteroides; uma combinação de
Oscar-bait com
Cannes-bait — duas coisas que até hoje eu não sabia que podiam coexistir. É o tipo de filme que me faz ter vontade de colocar eletrodos nas poltronas pra medir os pensamentos e emoções da plateia, pois tenho certeza que daria pra provar que ninguém de fato gostou da experiência ou sequer entendeu o que estava acontecendo metade do tempo, apesar de todo mundo sair dando 5 estrelas no cartão de avaliação (vi o filme na Cinemateca, na Mostra de SP, onde as filas são quilométricas, os assentos são ruins, cabeças te impedem de ler a legenda, o ar-condicionado não funciona — coisas que pra muitos tornam o filme ainda mais "artístico").
Fica a impressão que o cineasta leu A Nascente da Ayn Rand, gostou muito da parte onde Howard Roark é um arquiteto visionário que preza por integridade artística, mas detestou toda a ética e a filosofia por trás da história, então resolveu subvertê-la (notem a Estátua da Liberdade de cabeça pra baixo já no pôster). Temos aqui então uma premissa parecida, mas servindo pra denunciar o capitalismo e os ideais americanos — o protagonista escapa de ditaduras fascistas/comunistas no início da história, apenas para chegar nos EUA e ser estuprado pelo capitalismo, outro sistema igualmente vil. É uma ideia ridícula, claro, mas que poderia ter rendido um filme espertinho e provocativo se viesse da mente de um Lars von Trier (com quem Brady Corbet trabalhou em Melancolia e poderia ter aprendido umas lições). Mas quando você tem uma ideia dessa mal argumentada, discutida com a profundidade intelectual de uma redação do ENEM, se passando por inteligente apenas por truques estilísticos como os sotaques húngaros e créditos multidirecionais, você fica naquela situação estranha de lamentar que uma coisa, além de mal-intencionada, é também fraca e tola. Isso não deveria ser um alívio?
Minha indignação no fim não é com o filme, nem com Corbet. É com a crítica e os espectadores que cairão nessa fraude.
The Brutalist / 2024 / Brady Corbet
Categoria: Não Idealismo / Anti-Idealismo
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