- O documentário tem algumas boas imagens, e o fato de se passar nos EUA dá um ar mais sofisticado pra produção.
- Discordo dele que o trajeto natural da humanidade seja o de querer abandonar o mundo real e viver num mundo falso de pensamento; ou que viver no meio do mato seja viver no mundo real e viver na cidade seja viver num mundo irreal. Quer dizer que pra vida ser real o homem não pode usar sua razão? Não pode interferir na natureza pra sobreviver, ter uma vida melhor (como se a inteligência humana fosse um pecado, algo fora da natureza)?
- Discordo que a liberdade tenha diminuído no mundo por causa da tecnologia (pois agora podemos ser vigiados à distância pelo governo, etc). Se há menos liberdade, ele deveria enfatizar questões mais concretas, como as tendências autoritárias dos governos. Apelar pra conspirações tira credibilidade da discussão.
- Olavo é contra o crescimento do estado, o que acho bom. Mas não gosto como ele diz que esse crescimento é inevitável, como se fosse um fato irreversível da natureza. Então como é que alguns países são mais livres hoje do que eram há 100, 200 anos? Ele não aponta possíveis soluções. Parece achar cool essa postura de intelectual pessimista.
- Discordo que seja mais importante saber a origem das ideias do que os fatos que a suportam; que a gente temos que saber de onde um pensamento veio, se não estaremos sendo controlados por movimentos culturais. O que torna uma ideia válida é sua correspondência à realidade... Não importa quando ou por quem ela foi concebida. Isso parece paranóia, medo de estar sendo controlado. Há um senso de medo e perseguição por trás de tudo o que ele fala.
- Outro problema de Olavo é que ele não é claro e lógico em seu raciocínio. Vai apenas divagando sobre uma série de assuntos, se apoiando em sua enorme biblioteca pra parecer uma autoridade no que fala, mas sem explicar suas ideias claramente, sem estruturá-las. Por exemplo: ele começa a falar sobre hereditariedade, sobre o fato de nascermos com certas características que não podemos mudar. Qual o propósito dessa observação? Ele está falando sobre livre arbítrio? Sobre a felicidade humana e o que podemos fazer para atingi-la? Ele acredita que a felicidade seja o propósito da vida? Não sabemos... Não há um contexto claro, um propósito por trás da observação, são apenas "verdades" que ele vai jogando aleatoriamente. Mesmo as coisas que eu concordo com ele, não tenho como saber se concordamos pelos mesmos motivos, pois ele não explica o motivo dele acreditar naquilo. Ele é contra o estado por que? Ele acredita na liberdade? Nos direitos individuais? É a favor do livre mercado? Ele nem toca nesses termos. Só sabemos que ele é contra a esquerda por algum motivo.
- Divertida a passagem onde ele diz que costuma atrair malucos (fato que não me surpreende). Na vida pessoal ele não parece ser alguém desagradável.
- Um absurdo um homem que se diz interessado no conhecimento, na realidade, dizer que o cristianismo é totalmente baseado em fatos, e que não há dúvidas que Jesus ressuscitou, que milagres existem, etc. Não há nenhum esforço da parte dele de argumentar a favor disso, dar exemplos convincentes pra persuadir a plateia de forma honesta. Ele simplesmente afirma as coisas e acrescenta "evidentemente" às frases pra dar a sensação de algo óbvio.
- Outro absurdo é o trecho em que ele diz que ideias são como tábuas de salvação que os náufragos se agarram pra não afundarem, e que as ideias mais verdadeiras e importantes são aquelas que permanecerão com a gente até o momento da morte. Isso é puro subjetivismo. O fato de uma ideia te confortar no momento da morte não a torna real. Isso é uma tentativa de validar a religião. Ou seja: como na hora da morte ele precisará da religião pra amenizar seu medo (mais uma vez o medo parece estar ditando as crenças de Olavo), então a religião pode ser considerada a ideia mais verdadeira de todas! Não porque ela corresponde aos fatos e porque é necessária para a sobrevivência... Mas sim porque ela é necessária na hora da morte! A vida pra ele é como se fosse uma longa preparação para a morte.
- Todo esse papo sobre a imortalidade também não faz o menor sentido. A ideia de que se uma folha balança numa árvore, isso é um fato "eterno" que nunca poderá ser desfeito... Isso significa que eu sou imortal só pelo fato de existir? É claro que o fato de que eu existo agora nunca deixará de ser um fato. Mas como essa ideia poderia me confortar? Vai impedir que eu morra? Me torna alguém "importante" automaticamente, mesmo que eu tenha uma vida medíocre? Não... Mas talvez seja um truque mental que possa diminuir meu medo na hora da morte, então pra ele, isso já é o suficiente pra acreditar na ideia.
O Jardim das Aflições / Brasil / 2017 / Josias Teófilo
NOTA: 4.0