quarta-feira, 24 de março de 2010

O Livro de Eli


Provavelmente não teria visto esse filme se não fosse por Denzel Washington - não que ele seja meu ator favorito, mas sua presença geralmente indica que o filme não é qualquer lixo. E não é - o filme é bem dirigido, tem um visual impressionante (meio desbotado, com enquadramentos e paisagens incríveis) e um som impecável (a trilha tem um tema melódico super dramático que lembra Vangelis, Top Gun e outras coisas dos anos 80). Pena que essas qualidades estejam perdidas num roteiro fraco, inverossímil, e que não sabe muito bem o que quer ser.

É uma espécie de faroeste/road movie pós-apocalíptico no estilo Mad Max e Eu Sou a Lenda, onde Denzel Washington caminha solitário em direção ao oeste se alimentando de gatos e coisas piores e lutando contra gangues armadas que querem saquear água e até comer as vítimas (acho estranha essa escassez de alimento quando parece haver uma abundância de munição para as armas!). Ele carrega um livro raro e precioso que um bandido (Gary Oldman) quer por as mãos de qualquer jeito (o conteúdo desse livro ficamos sabendo só mais pro final - só digo que quando o filme terminou eu fiquei pensando "será que é pra eu ficar feliz que ele salvou isso?").

O problema do filme é que ele não serve pra nada: não é nem um entretenimento pop feito Mad Max, nem tem a profundidade de um Blade Runner - O Caçador de Andróides. É um filme violento, sem humor, com uma mensagem questionável, que acaba se destacando apenas pelo lado técnico. Mas pelo menos tem originalidade e não é chato. E Denzel Washington cortando cabeças não é algo que se vê todos os dias...

The Book of Eli (EUA, 2010, The Hughes Brothers)

INDICADO PARA: Quem gostou de O Exterminador do Futuro - A Salvação ou da série Resident Evil. AMIGOS: ???

NOTA: 6.0

terça-feira, 23 de março de 2010

Criação



Criação conta a história de Charles Darwin (feito por Paul Bettany, que sempre vai ter cara de mau caráter). Mas não é uma biografia completa, o filme foca mais no período em que ele escrevia "A Origem das Espécies" e sofria com a morte de sua filha. É um filme pequeno, de ambientes fechados - não mostra suas pesquisas nas ilhas Galápagos, etc. É mais sobre seu relacionamento com a esposa (Jennifer Connelly, que é casada com Bettany na vida real) e sobre seus conflitos pessoais.

Tem um pouco cara de telefilme, mas é dirigido com estilo (por John Amiel, da aclamadíssima série The Singing Detective) e até emociona em alguns momentos. A teoria da evolução foi considerada a maior idéia individual da história da humanidade. Gostaria que o filme tivesse entrado mais a fundo nesse lado científico. No fim, parece mais um filme sobre família e fé. Dá meio que a entender que a obsessão de Darwin pela ciência matou sua filha e destruiu seu casamento! Ou seja, o filme cospe na cara dos convidados (afinal o público alvo teoricamente são pessoas que apóiam Darwin e a ciência). Mesmo assim, recomendo para os interessados.

Creation (ING, 2009, John Amiel)

INDICADO PARA: Ateus ou quem gosta de história, biografias e assuntos científicos. AMIGOS: ???

NOTA: 6.5

domingo, 21 de março de 2010

O Segredo dos Seus Olhos


Vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro (segundo Oscar da Argentina, que ganhou em 85 com A História Oficial), dirigido por Juan José Campanella, o sentimental diretor de O Filho da Noiva (que também estrelava Ricardo Darín). O filme conta a história de um policial aposentado que está escrevendo um livro sobre um crime cometido anos antes. O filme tem uma roupagem de policial, mas no fundo é um drama romântico que foca mais nos relacionamentos e nos personagens envolvidos.

O filme tem uma estrutura estranha, pois todas as cenas boas estão mais pro fim. A primeira hora é um tédio mortal - tudo o que vemos são fotografias de pessoas conversando. Daí vem uma cena brilhante na delegacia onde um suspeito de assassinato é manipulado por uma mulher (não vou revelar detalhes, só digo que a cena termina com um close num órgão genital), depois vêm outra cena boa, mais outra, e ele ainda consegue te faz chorar! Mas nem tudo é tão genial assim - tem uma cena de ação durante um jogo de futebol que apesar de ser tecnicamente impressionante (até agora não sei como foi feita; fiquei mais intrigado do que em Avatar inteiro), é desnecessária e mal escrita... Parece uma sequência excluída da trilogia Bourne. De qualquer forma é um filme respeitável, satisfatório, e que quebra um pouco minha teoria de que já se pode saber a nota de um filme logo nos primeiros minutos.

Com 3 milhões de espectadores, é o filme Argentino mais visto desde 1983.

El secreto de sus ojos (ARG/ESP, 2009, Juan José Campanella)

INDICADO PARA: Quem gosta do cinema argentino mais comercial; Plata Quemada, Nove Rainhas, O Filho da Noiva..

NOTA: 7.0

terça-feira, 16 de março de 2010

Um Sonho Possível


História verídica de um garoto negro, corpulento, sem-teto e de inteligência limitada (seria um parente da Precious?) que é adotado por uma família rica e começa a jogar futebol americano na escola, se destacando por causa do seu tamanho. O filme foi indicado ao Oscar de Melhor Filme e levou o de Melhor Atriz para Sandra Bullock, que faz a mãe adotiva.

Foi uma decepção completa. Adoro Sandra Bullock, mas na minha opinião ela não merecia nem a indicação. Estava muito melhor em A Proposta. Parece que esqueceram de contar pra ela qual era o gênero do filme... Ela estava fazendo Legalmente Loira enquanto o diretor filmava Erin Brockovich. Bullock faz uma típica perua, um personagem caricato, superficial. Isso seria suficiente pra uma comédia, mas pra essa história seria necessário ir além do estereótipo e mostrar o lado real e humano da personagem. Fiquei impressionado com a incapacidade do filme de emocionar. Com essa sinopse, o difícil seria não emocionar. E é o que o filme faz. Não há conflitos. O garoto é aceito por todos na família muito facilmente, seu problema com a mãe biológica não é explorado, seu eventual sucesso no futebol é previsível e não faz ninguém vibrar. Até porque a vitória de Michael Oher é um pouco vazia - seu único talento de fato era ter nascido alto e gordo! O filme podia ter construído uma narrativa emocionante no estilo Dumbo, onde o "defeito" inicial do herói no fim se torna sua maior força. Mas não. O filme não sabe onde ficam as teclas da emoção, então sai apertando as notas aleatoriamente, põe música bonita em todas as cenas e reza pra que algum tiro atinja o alvo.

Meryl, durma tranquila.

The Blind Side (EUA, 2009, John Lee Hancock)

INDICADO PARA: Quem gostou de Invictus, Desafio do Destino, etc. AMIGOS: Carolina K, Felipe E, Henry, Marlene, Oghan.

NOTA: 6.0

Ilha do Medo


Em 1954, dois policiais desembarcam numa ilha sombria onde funciona uma prisão especial para doentes mentais. Eles vão investigar o desaparecimento de uma paciente que teria fugido e se escondido em algum lugar na própria ilha, de onde seria impossível ela ter escapado. Dirigido pelo mestre Martin Scorsese.

Scorsese é um dos únicos cineastas que ainda sabem confeccionar um filme como antigamente (não é saudosismo meu não; os filmes eram realmente mais bem feitos). Ele tem um domínio perfeito da linguagem visual, sabe como usar o som (a trilha lembra Bernard Herrmann e os filmes de Hitchcock), é ótimo diretor de atores e tem bom gosto estético. Nesse nível, o filme é uma aula de cinema. Mas hoje em dia já acho que de nada serve todo esse requinte artístico se você não tiver aprendido o principal, que é saber envolver o espectador, cativar a plateia. E nesse nível, o filme deixa muito a desejar.

O primeiro erro foi ter montado um trailer que dava a impressão ser de um filme de terror. Isso pode ter atraído mais público inicialmente (o filme já é o maior sucesso de bilheteria da carreira de Scorsese) mas frustra o espectador que vai esperando sustos e dá de cara com um drama psicológico pesado - isso pode acabar gerando um boca a boca negativo. No Brasil ainda pioraram a situação colocando a palavra "medo" no título (talvez pra fazer um paralelo com Cabo do Medo de Scorsese, este sim um suspense tradicional). Pra mim, a única tensão do filme foi minha luta contra o sono. O filme tem um ritmo lento e é constituído principalmente de diálogos.

Mas o grande problema de Ilha do Medo é que o final é extremamente previsível (não leia o resto se não quiser suspeitar de nada). Eu sou bem trouxa pra essas coisas e mesmo assim já tinha imaginado a conclusão da história quando vi o trailer. É algo que já foi usado demais, o público já aprendeu a considerar essas coisas. E não é uma reviravolta do tipo O Sexto Sentido, que mesmo sabendo do final o filme continua interessante - você fica até com vontade de assistir de novo pra pegar os detalhes. Não. Aqui, quando você sabe o final, todas as cenas evaporam. A investigação parece irrelevante, as cenas de ação perdem o sentido.

Imagino que a diferença esteja no personagem central. Não nos importamos realmente pelo personagem de DiCaprio. Ele é um policial, apenas um personagem vago de film-noir que serve mais para conduzir a trama (o filme já começa com ele chegando na ilha; não há introdução, não há interesse nenhum em sua vida pessoal). O que mantém a curiosidade do espectador neste filme é a trama - a gente continua olhado pra tela porque quer saber onde está a paciente desaparecida, como ela fugiu e o que está por trás disso tudo, como num livro da Agatha Christie. O drama pessoal do policial não é o interesse, o roteiro não buscou isso. Então o final acaba sendo traiçoeiro. É sério e elaborado o suficiente pra plateia sair respeitosa da sala, mas não é realmente satisfatório.

Shutter Island (EUA, 2010, Martin Scorsese)

NOTA: 6.0

quinta-feira, 11 de março de 2010

Coração Louco


Parece um filme biográfico, mas na verdade Bad Blake é um personagem totalmente fictício (as canções escritas para o filme foram vagamente inspiradas nas de Don Williams e Leonard Cohen). Blake (Jeff Bridges) é um cantor e compositor de música country, já em decadência, que roda sozinho pelo país fazendo shows em boliches e em lugares de quinta categoria. O drama, filmado em apenas 24 dias, trata da sua luta com o alcoolismo, da tentativa de reanimar sua carreira e de um novo relacionamento com uma jovem jornalista (Maggie Gyllenhaal).

O filme se passa nos tempos de hoje mas tem o espírito dos anos 70. Os autores certamente gostam de filmes como Cada Um Vive Como Quer, Alice Não Mora Mais Aqui ou mesmo Nasce uma Estrela (Jeff Bridges disse ter modelado parte de seu personagem em Kris Kristofferson). Achei que eu fosse me irritar com Blake (que remete ao "lutador" de Mickey Rourke) porque costumo ficar meio nervoso vendo esses tipos acabados no cinema, ainda mais em planos fechados... Aquele monte de barba, o cabelo despenteado, as roupas largas, a voz grave de quem já aproveita o fogo de um cigarro pra acender o próximo, os problemas de saúde (ele vomita várias vezes no filme e eu tenho pavor de cena de vômito - quem costuma ir ao cinema comigo sabe que é a única coisa que me faz tapar os olhos). Mas apesar de tudo, o carisma de Bridges me fez gostar do personagem. Ele é um senhor bonito, não fica totalmente repulsivo mesmo vomitando. E o filme é sensível, maduro, e é uma história de superação, de volta por cima (apesar de não sabermos como será o final, sentimos isso nas entrelinhas), o que me faz perdoar esse retrato tão cru da decadência. O personagem de Maggie Gyllenhaal é meio antipático e tem atitudes injustas, apesar disso achei ela bem escalada (uma Natalie Portman ou uma Kirsten Dunst não convenceriam tendo um caso com Bad Blake). Mas o show mesmo é de Bridges, que injeta vida em cada cena, criando pequenos momentos e detalhes que certamente não estavam no roteiro. Ele sempre acrescenta algum gesto, alguma atitude inesperada que finaliza as cenas numa nota alta. Foi um Oscar merecido.

Vencedor de 2 Oscars: Melhor Ator (Jeff Bridges) e Melhor Canção ("The Weary Kind"). Indicado a Melhor Atriz Coadjuvante (Maggie Gyllenhaal).

Crazy Heart (EUA, 2009, Scott Cooper)

INDICADO PARA: Quem gostou de O Lutador e os clássicos que eu citei. AMIGOS: Leslie, Manoela A, Marcio L, Mariana M, Marlene, Oghan, Thiago P, Viviane S, Wellington.

NOTA: 7.5

terça-feira, 9 de março de 2010

Orações para Bobby


Baseado numa história real, esse tearjerker (termo americano pra filmes que tentam fazer você chorar a qualquer custo) produzido para a TV, conta a história de um garoto gay no começo dos anos 80 que acaba se suicidando por causa da rejeição da família - principalmente da mãe que é extremamente religiosa e faz de tudo pra tentar "curá-lo" (o suicídio já é sugerido na primeira cena, então não estou estragando nenhuma surpresa). Não é nenhum Grey Gardens, que apesar de produzido pra TV tem qualidade de cinema. Esse é um típico telefilme, dirigido de maneira meio desajeitada, sem muito senso estético - apenas conta a história de uma maneira literal, assim como as novelas.

Todo o propósito do filme me parece uma fantasia vingativa meio infantil... Algo feito pra esfregar na cara dos parentes. Me lembrei da cena de Uma História de Natal, onde após uma briga com os pais, o garotinho se imagina voltando cego para casa pra fazer com que eles se sintam mal (é imperdível, assistam o trecho aqui!). Mas há algo de muito honesto e visceral nessa história, tornando ela difícil de resistir. O filme foi indicado aos Emmys de Melhor Filme e Melhor Atriz para Sigourney Weaver (que faz a mãe). Frequentemente cito Sigourney como minha atriz favorita, e este filme só me fez amá-la ainda mais. É uma das melhores performances do ano, e por causa dela o filme ganha vida.

Prayers for Bobby (EUA, 2009, Russell Mulcahy)

INDICADO PARA: Quem gostou de Milk - A Voz da Igualdade ou C.R.A.Z.Y. - Loucos de Amor.

NOTA: 7.0

domingo, 7 de março de 2010

As 3 Possibilidades Mais Assustadoras do OSCAR 2010


1. AVATAR PERDER PARA GUERRA AO TERROR. Se ainda fosse uma disputa do tipo filme pipoca VS. "cinema de qualidade" (como em 1978, que Star Wars perdeu pro Annie Hall do Woody Allen), acho que eu até entenderia (afinal Annie Hall também era uma obra-prima, só que de um tipo diferente de Star Wars). Nesse caso a disputa é entre um filme excelente que é a maior bilheteria de todos os tempos VS. um filme pior que ninguém se lembrará daqui a 1 ano e que está entre os menos vistos da história do Oscar. Seria um erro, simplesmente.

2. JAMES CAMERON PERDER PARA A EX KATHRYN BIGELOW. Estou pondo de lado aqui meu "preconceito" contra as diretoras de cinema (esse ano por sinal foi ótimo para elas; tivemos Julie & Julia, Coco Antes de Chanel, Educação, todos filmes muito bons). É que nesse caso específico simplesmente não dá pra comparar uma coisa com a outra, é como um castelo de cartas concorrendo com a Catedral de Notre-Dame.

3. MERYL STREEP NÃO GANHAR DE NOVO. Ainda não vi o filme da Sandra Bullock, e apesar de eu achar ela ótima atriz, acho difícil imaginar que ela possa ter feito algo mais elaborado e genial que Streep em Julie & Julia. Seria um prêmio pela popularidade atual de Sandra e pela carreira dela também. Mas por que não dar um outro prêmio pra carreira de Meryl Streep? Afinal, faz 27 anos que ela não ganha um Oscar! Quantas carreiras não valem o que ela fez nesses últimos 27 anos?

Nos 3 casos existe um padrão - um concorrente é obviamente mais forte que os outros, então parece que existe algo de errado em premiar o melhor. Parece mais nobre dar uma chance pro segundo colocado, pro mais fraco. Gente, é o Oscar! O prêmio mais cobiçado do mundo! Se ISSO não for uma competição justa e impiedosa, então está na hora de criar um outro prêmio que nos dê essa referência.

sábado, 6 de março de 2010

Direito de Amar


Estréia na direção do estilista Tom Ford, Direito de Amar (financiado por ele próprio) é sem dúvida um dos filmes de maior bom gosto estético que eu já vi. É tudo tão chique que é a primeira vez que eu vejo um ator sentado numa privada ainda parecer elegante. Tudo é um prazer estético, desde a fotografia granulada, até os figurinos hiper bem cortados, a música, as sardas de Julianne Moore, a simplicidade da fonte nos créditos iniciais (a única coisa de mau gosto mesmo no filme é o título em português).

E também é a primeira vez em muito tempo que eu vejo uma novidade técnica; uma ferramenta incrível de direção que nunca tinha me passado pela cabeça. Tom Ford usa cor assim como outros diretores usam música ou tamanho de enquadramento. Não como algo estático e fixo durante o filme todo, mas como algo que deve ser aumentado ou diminuido conforme a necessidade de cada cena, acentuando os momentos desejados. Filmes como Deserto Vermelho ou Reds já usaram cor pra transmitir idéias e sentimentos, mas aqui isso é usado de uma forma diferente: numa mesma tomada, nós vemos a saturação da imagem flutuar pra cima e pra baixo, esquentando e esfriando a cena de acordo com o sentimento do personagem, como nuvens passando em frente ao Sol. E o mais impressionante é que o efeito disso não é apenas intelectual, a entrada da cor realmente intensifica a emoção das cenas!

O drama gira em torno de um professor universitário gay, em 1962, que perde o namorado num acidente de carro logo no começo do filme e passa a viver sozinho. Ou seja, não é um filme para as grandes massas. Além da temática gls, o filme é sobre idade, morte, solidão, nada pra ir curtir no Domingo com a família. Mas não é um filme depressivo; as imagens e as performances de Colin Firth e Moore fazem dele um prazer que supera a seriedade do tema.

E pasmem, o rapaz da foto acima é Nicholas Hoult, o nerdzinho de Um Grande Garoto:

Indicado ao Oscar de Melhor Ator (Colin Firth).

A Single Man (EUA, 2009, Tom Ford)

INDICADO PARA: É um filme difícil de classificar, mas acho que é pra quem gosta de filmes maduros e visuais, como Longe do Paraíso ou mesmo o Beleza Americana (esquecendo o lado teen).

NOTA: 8.0

terça-feira, 2 de março de 2010

A Fita Branca


Vencedor da Palma de Ouro em Cannes, em 2009, A Fita Branca é o novo filme do provocador cineasta alemão Michael Haneke (Caché, Violência Gratuita). Contada em preto e branco, a história se passa num vilarejo alemão poucos meses antes do início da Primeira Guerra Mundial, onde misteriosos atos de violência começam a ocorrer levantando suspeitas sobre os moradores da vila - especialmente sobre as crianças.

Sutil e com ritmo bem lento (e 2 horas e 25 minutos de duração), o filme é um comentário sobre o autoritarismo, a violência e a opressão. O conceito de Haneke é que essas crianças, acostumadas com a punição e à obediência cega dentro de suas próprias casas, são a semente do nazismo. Pra mim, isso soa como uma explicação barata e meio infantil. Uma afirmação grande, mas bobinha demais pra servir de base pra um filme tão bonito e ambicioso. É como aquele filme do Oliver Stone sobre George W. Bush, que dava a entender que todos os erros do presidente eram consequência da falta de amor do pai. Sei, sei.

A impressão que eu tive é que Haneke queria fazer o seu Dogville. Ele e Lars von Trier têm carreiras parecidas... Eles fazem parte de um mesmo universo filosófico, olham o mundo através da mesma lente - uma lente escura que quer revelar o caos e a crueldade humana. Só que eu acho Trier mais talentoso, mais profundo e mais divertido. Seus filmes são intensos, estimulantes. De qualquer forma, é um filme sobre ideias interessantes, é bem dirigido, e é visualmente impecável.

Indicado a 2 Oscars: Melhor Filme Estrangeiro (Alemanha) e Melhor Fotografia.

Das Weisse Band - Eine Deutsche Kindergeschichte (AUS/ALE/FRA/ITA, 2009, Michael Haneke)

NOTA: 6.5