Comédia que mistura ficção com pegadinhas "reais" estilo Sacha Baron Cohen. Embora eu não goste deste formato, comparando com Borat, Bad Trip tem um humor mais bem intencionado, não é motivado por política — eu particularmente gosto mais, dei algumas boas risadas (Eric André parece um cruzamento dos irmãos Wayans com Jackass) mas claro que eventualmente a falsidade de algumas das pegadinhas começou a arruinar a graça pra mim. Tentei me esforçar pra tirar o foco disso (agir como um espectador "normal") e no começo estava dando certo, pois acho que muita coisa de fato pode não ter sido combinada... Mas bastou 1 cena obviamente desonesta, como a que o carro capota e "explode" a poucos metros de "pedestres", pra eu desconfiar de todo o resto e achar que o filme estava me chamando de burro. Valeu por algumas piadas no entanto.
Professor Polvo (My Octopus Teacher / 2020): 4.0
Indicado ao Oscar 2021, o documentário acompanha um cineasta/mergulhador no sul da África que forma uma "amizade" com um polvo, que o ensina a ser mais "humano" e a ter mais apreço pela natureza. Achei o filme triste e perturbador... Eu realmente não tenho essa visão romântica da vida selvagem; onde o cineasta enxerga beleza, eu vejo apenas vazio, uma existência horrível, um animal com uma vida curta, que vive sozinho, num estado de medo constante, onde tudo é sobre matar ou ser morto, cuja biologia é toda voltada pra se esconder, se proteger, escapar da morte, nada positivo. Algumas das cenas de animais comendo outros animais são de embrulhar o estômago, sem falar que o polvo é uma das criaturas mais feias do planeta — ver o cineasta tentando retratá-lo de forma poética é como a experiência de ver uma cena de amor entre a Sigourney Weaver e o "Facehugger" de Alien. Craig Foster não tem carisma pra carregar o documentário sozinho, e suas reflexões não são tão ricas a ponto de tornar documentário interessante do ponto de vista psicológico/filosófico. É curioso pensar como seu estado emocional acaba provocando essa visão trágica da vida; como o Senso de Vida de uma pessoa e as coisas nas quais ela escolhe focar definem todo o tom da realidade física ao redor dela. Consigo imaginar um outro documentário sobre o fundo do mar que não me causasse o mesmo incômodo, se narrado e dirigido por outra pessoa. Mas Craig Foster era claramente uma pessoa deprimida em sua vida anterior na "civilização". Ele foi pro mar e se apegou ao animal numa tentativa de fugir da realidade, da depressão, mas em vez de se livrar dela, ele parece apenas ter trazido sua escuridão para um novo ambiente.
The United States vs. Billie Holiday (2021): 6.5
Estava curioso pra entender por que a crítica não tinha gostado tanto deste filme (exceto pela performance de Andra Day), mas adorado A Voz Suprema do Blues, por exemplo, e me parece que o motivo é o fato da bússola política/moral do filme ser um pouco ambígua e às vezes ir contra os ideais progressistas do momento, o que é uma grande desvantagem se seu objetivo é ganhar prêmios. O filme tem seus problemas; o roteiro é um pouco confuso, desestruturado, e eu pessoalmente não sou fã dessas biografias que focam na decadência dos artistas. Mas em geral achei um filme honesto, e a performance de Andra Day de fato é incrível, uma dessas estreias no cinema que de tão maduras e acertadas parecem inexplicáveis.
Cherry - Inocência Perdida (Cherry / 2021): 6.0
Tom Holland faz um estudante que vai pra guerra do Iraque nos anos 2000, volta com Transtorno do Estresse Pós-Traumático e começa a se afundar em drogas e crimes. É um desses filmes tipo Réquiem para um Sonho que parecem se orgulhar de serem "barra pesada", e concentram seus esforços criativos não em coisas positivas, mas em retratar o fundo do poço dos personagens de forma impactante e "cool". Temas como drogas, crime, guerra, prisão são ótimos pra esse tipo de "culto à dor", e esse filme dá um jeito de costurar isso tudo numa trama só. É certamente envolvente, bem produzido — mas bem mais clichê e juvenil do que provavelmente gostaria de ser.
Liga da Justiça de Zack Snyder (Zack Snyder's Justice League / 2021): 4.0
Não vi diferença alguma entre a primeira versão e esta em termos de qualidade cinematográfica — qualidade de história, direção, texto, performances, ação... Continua tudo tão vazio e enlatado quanto antes, apenas bem mais longo e pretensioso, o que na verdade torna o filme pior na minha visão — afinal, quando algo não é muito bom, o ideal é que seja o menos pretensioso possível (uma versão de 1h30 do filme talvez tivesse mais chances de subir no meu conceito do que esta de 4h, que apesar de ter todo o tempo do mundo, ainda não consegue criar uma experiência satisfatória, conclusiva, tendo que inserir vários ganchos no epílogo pra dar aquela sensação de que tudo não passou de um aperitivo e "o melhor ainda está por vir"). Me senti maratonando uma série de TV (coisa que não faço), como se algum seriado desses atuais tivesse se disfarçado de filme, empurrado o padrão estético da TV (e seus problemas) para o mundo do cinema, e conseguido me trapacear para consumi-lo.
História real de um prisioneiro de Guantánamo que ficou detido por anos sem provas concretas (por suspeita de envolvimento no 11/9), e uma advogada que lutou ao seu lado por justiça. É um daqueles filmes que parecem "estranhos" hoje em dia justamente por serem bons; por se parecerem com um filme de verdade, como se fazia antigamente... Há 20 anos talvez não fosse um grande destaque (não chega a ser tão bom quanto um Questão de Honra, que me parece a comparação mais óbvia), mas hoje merece reconhecimento por ter um roteiro sólido, ótimos atores, uma produção redonda, e por simplesmente ser decente em termos de valores... por conseguir contar uma história que fala de política, mas que não cai no discurso partidário vulgar, que nos lembra que racionalidade, justiça e liberdade estão acima de tudo, e são os únicos valores capazes de trazer pessoas de diferentes origens e crenças a algum acordo.
Raya e o Último Dragão (Raya and the Last Dragon / 2021): 6.0
Parece uma amálgama de Mulan, Moana e diversas produções recentes da Disney, tentando trazer uma mensagem de união, paz, ajudar a combater a polarização da sociedade atual, etc. A protagonista Raya é uma dessas "princesas" mais cínicas e modernas que me dão um pouco de preguiça, e o roteiro é extremamente clichê e familiar. Mas comparando com outras animações recentes, acabou me parecendo uma das menos negativas. A mensagem de união não chega a inspirar muito por ser bem fantasiosa e desconectada da realidade — em vez de sugerir que o bem pode vencer o mal, há uma noção meio mística aqui de que o mal nem existe no fundo, que se todos derem as mãos e confiarem uns nos outros, poderemos "voltar" a viver numa espécie de Jardim do Éden, etc. Há também a obsessão habitual por auto-sacrifício e uma série de toques duvidosos, mas na balança final acho que os pontos positivos compensam os negativos. Em termos de visual e de trilha sonora foi um dos filmes mais bonitos que vi no último ano.
Um Príncipe em Nova York 2 (Coming 2 America / 2021): 6.5
Sequência do sucesso de 1988, o filme tenta ser fiel à estética e ao espírito do original, e até que não se sai mal (os figurinos em particular continuam incríveis). O filme só não é tão engraçado quanto, em partes porque a história do primeiro era essencialmente mais cômica e divertida (a ideia de um príncipe africano disfarçado na América, animado pra viver como um pobre no Queens). No segundo, já existe um toque de correção política no coração da trama que estraga um pouco o humor e diminui o carisma de Eddie Murphy — sem falar que o rapaz que faz o filho dele foi um erro de casting grotesco, um dos personagens mais sem graça que já vi. Ainda assim, achei agradável e bem intencionado de modo geral.
Duas Tias Loucas de Férias (Barb and Star Go to Vista Del Mar / 2021): 5.0
Duas amigas inseparáveis que nunca viajaram resolvem ir de férias pra Flórida e viver uma grande aventura. Kristen Wiig e Annie Mumolo formam uma boa dupla e o começo é divertido (o humor é muito em cima da "cafonice" associada ao estado e a senhoras de classe média), mas como toda comédia atualmente, falta uma boa dose de seriedade no roteiro e principalmente uma curadoria melhor de piadas — as boas sacadas acabam sendo ofuscadas por outras que de tão péssimas te tiram a coragem de indicar o filme. Algo na linha de A Missy Errada (2020) ou Festival Eurovision da Canção (2020) - embora Eurovision ainda esteja uns pontinhos acima.