segunda-feira, 17 de junho de 2024

Cultura - Junho 2024

19/6 - Cotas de tela

Não sei se as cotas para filmes nacionais no streaming/cinemas já estão plenamente em vigor, mas hoje a Netflix adicionou vários filmes brasileiros ao catálogo, e a seleção é bem suspeita:


Central do Brasil (1998) até faz sentido estar na Netflix, que costuma ser bem seletiva no que diz respeito a clássicos de qualquer gênero ou nacionalidade, se limitando apenas aos títulos mais conhecidos. Agora filmes como Terra Estrangeira (1995), Vidas Secas (1963) e Rio, 40 Graus (1955) já são "cult" demais pro perfil da Netflix. O fato dessa seleção incluir várias produções dos irmãos Moreira Salles, incluindo Entreatos (2004), um documentário sobre a eleição do Lula, faz tudo parecer ainda menos espontâneo.


Houve um aumento notável também de filmes nacionais estreando nos cinemas nos últimos meses. E lembrando agora dessa história de cotas, me caiu a ficha de por que quase todos os grandes multiplexes de São Paulo esta semana estão exibindo Avassaladoras 2.0 e o novo filme do Sérgio Mallandro, Mallandro: O Errado que Deu Certo — dois fracassos garantidos, ocupando salas numa época em que até os grandes lançamentos de Hollywood têm tido dificuldade de gerar lucro para os cinemas.


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17/6 - Clássicos lotando salas

Uma tendência curiosa atualmente (em São Paulo pelo menos) é a de sessões especiais de clássicos que estão frequentemente lotando salas de cinema no circuito alternativo. No Belas Artes, três sessões de filmes do Tarkovsky (A Infância de Ivan, Andrei Rublev, Solaris) que ocorrerão nos próximos dias estão com os ingressos esgotados. Na terça da semana que vem (25) uma sessão de 2001: Uma Odisseia no Espaço também já está praticamente lotada (em uma sala grande de 274 lugares), assim como a de Pink Floyd - The Wall (1982), que acontecerá no dia seguinte. No Cine Marquise, Blade Runner - O Caçador de Androides (1982) teve várias sessões bem cheias neste último fim de semana. No sábado (22) o Instituto Moreira Salles vai exibir Depois de Horas (1985) em uma sessão que já está lotada também há vários dias — e isso não é nenhuma mostra ou retrospectiva pontual, mas uma rotina que se consolidou na programação da cidade, especialmente após a pandemia.

Isso, junto com as eventuais estreias que ainda se tornam fenômenos de bilheteria (como Divertida Mente 2), mostra que as pessoas continuam querendo ir ao cinema; que se a indústria está em crise, não é por culpa do desconforto das salas, do TikTok, da Netflix, mas porque os filmes novos simplesmente não têm sido interessantes o bastante para o público.

(Não duvido que o mercado exibidor tenha que passar por uma certa contração por causa dessas novas formas de entretenimento que surgiram — antes da invenção da TV, muita gente devia ir ao cinema por pura falta de opção, por razões secundárias, não por realmente curtir o programa; tanto que o público de cinema nunca voltou a ser tão grande quanto era antes da chegada da TV. Mas isso não quer dizer que ele tenha desaparecido, diminuído de maneira progressiva, e que um dia será dizimado por fatores econômicos, como o público de videolocadoras. E acho que esse tipo de contração, que vem da "liberação" dos espectadores que só iam ao cinema por falta de opção, pode até ser benéfica a longo prazo.)

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17/6 - Astros com cara de rato

Nem acho que todos os atores citados nessas matérias sejam pouco atraentes, se pareçam com ratos, ou reflitam o que chamo de Padrãofobia / Casting Naturalista necessariamente. Mas o que a matéria do The New York Times está se esforçando (comicamente) pra identificar é justamente o que discuto nesses textos (o que me fez pensar que estamos vivendo os anos 70 de novo — vide o trecho da minissérie Arnold em que o Schwarzenegger relata que no começo da carreira ele não achava que podia ser ator, pois um astro de Hollywood na época tinha que se parecer com o Dustin Hoffman ou o Al Pacino).

7 comentários:

Anônimo disse...

Faz tantos anos que não ouvia falar do Sérgio Mallandro..
A idéia de alguém produzir esse filme soa mais cômica do que o próprio filme jamais poderia ser.
E porque será que um filme desses é produzido? Será alguma estratégia "Primavera para Hitler"?

Pedro.

Caio Amaral disse...

Hehe, vale lembrar que o Luccas Neto lançou uns 5 longas só entre 2023 e 2024.. se tem produtor vendo potencial nisso, "Mallandro" até que não parece um projeto tão ruim assim, rss.

Caio Amaral disse...

Curiosidade: Avassaladoras 2.0 e Mallandro, que estrearam ambos na semana passada e estavam passando em praticamente todos os multiplexes, essa semana já praticamente sumiram de cartaz! Esses filmes só devem estrear em tantas salas por causa de cotas ou algo do tipo, não porque há expectativa de público... Essa semana, o nacional da vez é "Bandida - A Número 1", que estreou em tudo que é cinema, substituindo os nacionais da semana passada. Daí semana que vem, "Bandida" deve perder a vaga da cota, pois estreia "Tô de Graça" com o ator do Zorra Total.. E dia 11 de Julho, chega "Luccas e Gi em: Dinossauros", mais um do Luccas Neto.. Esse é o "incentivo" ao cinema nacional que alguns parecem achar tão importante, rs.

Dood disse...

Isso me lembra de uma vez no Shopping Grande Rio no final dos anos noventa quando estreou o filme da Carla Perez Cinderela "Baiana" que não ficou nem uma semana em cartaz e só foi exibido uma única vez na TV Aberta na Sessão da Tarde.

Imagina o quanto de filmes assim vão colocar nas salas por causa dessa cota.

Ingrid Guimarães deve estar sorrindo de orelha a orelha nesse momento, motivo: ela levantou a bola de cotas uma vez com a birra com o filme dos Vingadores.

Caio Amaral disse...

Cinderela Baiana pelo menos foi tão "exótico" que conseguiu ir ganhando um status de clássico cult com os anos hehe.
O cenário é triste mesmo.. com a crise em Hollywood, era hora dos cineastas brasileiros aproveitarem que a competição está menor, e lançarem coisas surpreendentes, que pudessem competir mais de igual pra igual com os lançamentos internacionais. Mas parece que o que causou a crise lá também fez o cinema daqui piorar na mesma proporção.

Dood disse...

Cinderela Baiana é cult? Sabia não. O negócio é que o que vai ser colocado nas telas vão ser coisas de Globochanchadas pra baixo. Acho que até essas coisas mais de nicho como aquelas Obras Naturalistas como Que Horas Ela Volta? que só os empinados curtem porque é uma crítica mordaz ao sistema nem vão se beneficiar tanto com isso.

Pelo menos tá garantido uns 10 filmes da série De Pernas Pro Ar da Ingrid Guimarães.

Caio Amaral disse...

"Cult" no sentido mais amplo do termo, que pode incluir o "trash" tb, rs.

É, se a lei disser apenas que deve haver x% de sessões nacionais por cinema, mas não especificar gênero, orçamento etc.. o mais provável é que redes como a Cinemark acabem preferindo preencher as vagas com as Globochanchadas mesmo hehe.