Estava em Paraty neste fim de semana enquanto rolava o 1º Festival Internacional de Cinema de Paraty. Não cheguei a assistir aos filmes competindo, mas assisti a algumas mesas com insiders da indústria falando sobre tópicos diversos (o Dalenogare inclusive participou de uma sobre o Brasil nas campanhas para o Oscar). É raro eu participar desse tipo de evento, e o que mais me marcou nessa experiência foi que em vez de eu ficar inspirado e me sentir mais próximo do meio, eu saí com uma clareza ainda maior de por que eu nunca me vi fazendo parte dele. As duas principais mensagens que absorvi vendo essas mesas foram:
1) Que pra você se destacar fazendo cinema no Brasil, o que importa no fim é ser bom em networking, ficar amigo das pessoas certas, saber cativar outros "insiders" mais influentes que você.
2) Que pra você ter um filme de sucesso, o que importa é entender das tendências de mercado, os hábitos do consumidor, estudar o que o seu "nicho" quer e prever o que estará na moda daqui a 2 ou 3 anos (considerando o tempo de produção de um longa).
Ou seja, se você é do tipo que acha que cinema é antes de mais nada uma arte, e que mesmo o entretenimento não pode ignorar questões como autenticidade, talento, imaginação, longevidade, você se sentiria um alien naquele ambiente. No mundo desses profissionais da indústria, os exemplos a serem seguidos do cinema brasileiro são os de filmes como a cinebiografia do Claudinho e Buchecha, que foi a maior bilheteria nacional de 2023, ou então o documentário Democracia em Vertigem da Petra Costa, que por ser bem conectada e boa em auto-promoção, conseguiu uma indicação ao Oscar em 2020. Esse é o tipo de projeto que eles veem como o suprassumo da produção nacional, o tipo de produto "sexy" que te abre portas, que as produtoras realmente cobiçam. Então se você aspira a algo diferente, ou se você acha que esse tipo de sucesso ainda não é bom o bastante, você fica parecendo um artista ingênuo, pouco prático, alguém que não entende realmente do negócio e que provavelmente não seria acolhido por ninguém no mercado.
6 comentários:
Caio, você tem um certo conhecimento sobre festivais brasileiros (ou gringos) e como poder participar deles? Esse semestre estarei dirigindo um curta como projeto pra faculdade e nossos professores pediram para irmos pesquisando festivais aqui e ali para inscrever o projeto.
Se por um lado eu acho isso um modo interessante para se ter visibilidade, também cai naquilo que você citou de que para produzir cinema no Brasil apenas com bastante networking... De qualquer forma estarei tentando fazer o máximo para não criar aqueles filmes clichês de estudante que são tão comuns rs
Até passei o seu blog pros meus amigos darem uma lida nos artigos e ficarem mais inteirados nas ideias que eu quero montar. Abs!
Oi Yan.. Legal esse projeto! Já tem uns anos que eu não investigo nada nessa área, então muita coisa pode ter mudado. Na época que fiz o "A Coisa Mais Simples do Mundo", eu usei a FilmFreeway pra me inscrever em festivais internacionais, pois era super simples, sem burocracias etc. Os festivais relevantes aqui do Brasil eu nem tentei pq eram mais burocráticos que os de fora! Como eu só produzi umas coisas meio caseiras e fazendo tudo sozinho, eu nunca tentei fazer uma campanha real pra festivais pra saber como é o processo... Mas aproveita que você tem outras pessoas pra ajudar pra ir mais a fundo nisso.. Curta que não passa por festival quase nunca se destaca mesmo.. exceto no caso de virais do YouTube etc.
Não conhecia esse filmfreeway, vou dar uma pesquisada a fundo nessa plataforma e como ela funciona. Me disseram que os festivais brasileiros geralmente possuem inscrições gratuitas, mas que tem muita burocracia mesmo então acaba desanimando um pouco para enviar para eles.
A gente pensa em postar no YouTube e nas outras plataformas tipo o vimeo e o dailymotion, mas pra chegar a ganhar uma boa visibilidade é difícil
É tipo o Uber dos festivais de cinema. Super fácil de se inscrever. Só tem que lembrar que tem muito festival amador e irrelevante que só existe pra ganhar dinheiro com as taxas de inscrição e distribuir os louros em PNG pros participantes enfeitarem os cartazes. Não se iluda com os nomes pretensiosos dos festivais. Lá na FilmFreeway tem vários métodos pra você checar o quão importante é cada festival de fato. Mas claro, quanto mais importante, mais difícil vai ser um projeto pequeno ser selecionado. Então não desperdice dinheiro se inscrevendo em Sundance, etc. hehe... Pense no que é realista para o tamanho do seu curta. Se eu fosse fazer um curta hoje pra tentar ganhar visibilidade no mercado, eu provavelmente apostaria nos festivais nacionais que eu pudesse atender pessoalmente. Acho que é aí que rola o networking e as oportunidades mais concretas.
Sim sim, faz todo sentido. Tem alguns festivais também que pedem pro curta ser inédito deles para poder passar lá e no final acaba nem valendo tanto a pena exibir lá. Mas vou pesquisar direitinho os aqui de SP e os nacionais que sejam interessantes de inscrever o projeto e com sorte talvez até role algum prêmio kkk
E muito obrigado pelas dicas Caio, abs!
Sim, quando você exibe seu filme em um festival, isso pode te desqualificar de outros que querem exclusividade. E sobre o que será o filme?
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