“MacArthur Park” e “Tragedy” estão entre minhas músicas disco favoritas, mas até eu achei que o Tim Burton se empolgou demais nos needle drops em Beetlejuice Beetlejuice, que estão entre as poucas sequências do filme que não funcionam tão bem — um pouco pela seleção das músicas (algo mais excêntrico, menos pop, teria casado melhor com o espírito anárquico da produção) mas também porque o roteiro não cria um pretexto narrativo pra essas sequências, que acabam soando meio gratuitas (a piada com o programa Soul Train já achei engraçada, pois tem uma conexão com a cena).
O roteiro no fim é o aspecto mais frágil do filme. Não por ser genérico, sem criatividade, mas porque falta uma direção para a trama, que fica saltando entre diversas gags, narrativas paralelas e demora demais para definir um conflito central. Ainda assim, o filme entretém porque ele é surpreendentemente rico em ideias originais, sacadas cômicas, além do elenco todo estar muito bem. Até os representantes Gen Z da história estão menos irritantes que de costume, pois em vez de jovens aborrecidos e superficiais, aqui temos jovens aborrecidos e altamente cultos, inteligentes, o que já é um avanço.
Fiquei bastante impressionado com a qualidade geral da produção. É daquelas raras estreias que te dão a sensação de estar vendo um filme real, feito com o mesmo nível de energia e profissionalismo que se via nos tempos áureos de Hollywood (senti algo parecido em O Retorno de Mary Poppins, Top Gun: Maverick, mas em pouquíssimas outras sequências dessas que tiveram um longo intervalo no meio). O fato de Winona Ryder estar com uma ótima aparência, e de idade não ser uma questão também para o personagem do Michael Keaton, aumenta ainda mais essa ilusão de que 1988 não foi há tanto tempo assim — que a magia do cinema talvez nunca tenha morrido de fato, é só uma questão de alguém querer ressuscitá-la. Os efeitos práticos também estão excelentes e servem como argumento a favor dessa nova onda anti-CGI.
Podia ter sido melhor se tivesse uma trama mais focada, um conflito central mais sólido, mas ainda assim, é um retorno à forma para o Tim Burton (nunca fui um grande entusiasta dos filmes dele ou do próprio Beetlejuice original, então “7” não é uma decepção), e é mais uma prova que 2024 é o ano em que a diversão está tentando fazer um comeback no cinema.
Beetlejuice Beetlejuice / 2024 / Tim Burton
Satisfação: 7
Categoria: I
Filmes Parecidos: Wandinha (2022–) / Abracadabra 2 (2022)
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