Desde Mais Forte que o Mundo: A História de José Aldo (2016), Afonso Poyart estava na minha lista (extremamente breve) de cineastas brasileiros nos quais eu via potencial, mas agora a lista acabou de ficar mais curta. Apesar da tentativa sempre meio cringy de vestir o Brasil numa roupagem high-tech, a história de Biônicos até me interessou no começo — parecia uma discussão inteligente sobre as possíveis consequências negativas da tecnologia para a sociedade, especialmente no contexto de uma cultura que recompensa mediocridade e penaliza virtude. A protagonista Maria também parecia ser uma mulher íntegra no começo, uma atleta que se orgulha de cultivar habilidade de verdade e que não está disposta a se vender. Mas no fim, o filme vira o oposto disso. Em vez de condenar a ideia de atletas biônicos substituindo atletas tradicionais no esporte, ou o absurdo de uma pessoa saudável se automutilar pra ganhar membros artificiais, o filme acaba mostrando isso como algo cool; as próteses como um símbolo de empoderamento e até de "justiça social". Maria de uma hora pra outra se torna uma criminosa, contradizendo toda sua caracterização inicial, e apesar do cenário high-tech, o filme acaba dando um jeito de apostar na velha "cosmética da fome" do cinema brasileiro, glamourizando o crime, e exigindo que todos pronunciem por** a cada duas frases. A trama lembra muito a de Chappie, mas é ainda mais ilógica: estamos em 2035, num mundo dominado por tecnologia, e a forma mais prática que o Bruno Glagliasso encontra de roubar R$500 mil é seduzindo uma atleta, convencendo ela a se tornar uma bandida, a ser atropelada de propósito, ter sua perna amputada e substituída por uma perna biônica (como eles sabem que o atropelamento causaria este ferimento exato nunca é explicado) pra que daí ela possa usar a perna biônica pra arrombar um carro-forte e roubar o dinheiro pra ele (!). Esse heist movie e a trama paralela das duas irmãs rivais competindo no esporte parecem dois filmes separados que nunca se integram direito, e a execução toda é péssima. Alguns efeitos visuais até impressionam pros padrões nacionais, mas não escondem a falta de jeito dos produtores pra esse tipo de entretenimento: o CGI mais caprichado do mundo não impediria a cena dos 3 irmãos encontrando o Miguel Falabella no final de estar entre os desfechos mais péssimos que já vi no cinema (que inclui possivelmente a cena de "dancinha da vitória" mais patética de todos os tempos).
Satisfação: 0 (Idealismo Corrompido)
É raro a gente ver qualquer história inspiradora na ficção hoje; talvez seja por isso que documentários como este, sobre carreiras de sucesso do passado, estejam sempre terminando entre meus filmes mais recomendados do ano. The Beach Boys é exatamente o documentário que parece ser. Foi dirigido por Frank Marshall (produtor de E.T. e Os Caçadores da Arca Perdida), que também dirigiu o ótimo The Bee Gees: How Can You Mend a Broken Heart (2020). Em contraste com a trajetória mais otimista dos Bee Gees, que estouraram quando a contracultura já estava chegando ao fim, é fascinante ver o que aconteceu esteticamente e psicologicamente com artistas que se formaram antes dela, nos tempos ainda idílicos dos anos 50/60, e que depois tiveram que se adaptar a uma sociedade que havia se tornado hostil aos ideais que eles representavam.
Satisfação: 8
Pegue todos os valores mais desagradáveis do cinema atual: o populismo, o primitivismo/misticismo, o culto à violência, à pobreza, o ódio dos ricos, e os imagine sendo apresentados em uma história que se passa inteira em ambientes escuros, repulsivos, onde todos os personagens são moralmente corruptos, que é pura ação divorciada de drama, e que é liderada por um "herói" cujo único propósito é externalizar toda sua raiva e praticar os atos mais grotescos de violência. Isto é Fúria Primitiva, uma espécie de John Wick à indiana que Dev Patel (Quem Quer Ser um Milionário?) parece se orgulhar de ter escrito, dirigido e estrelado.
Satisfação: 0 (Idealismo Corrompido)
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