sábado, 13 de julho de 2024

Twisters

Uma experiência satisfatória e frustrante ao mesmo tempo. Satisfatória porque meu maior receio com Twisters era o Lee Isaac Chung (de Minari) na direção, o que me parecia uma dessas escolhas desastrosas tipo colocar a Chloé Zhao pra dirigir Eternos. Mas no fim, achei o filme surpreendentemente bem dirigido e bem produzido - ele consegue em muitos aspectos replicar o clima do filme de 1996 (os efeitos especiais fazem uma ótima mescla de CGI com efeitos práticos, a fotografia e a trilha sonora também acertam no tom) e o roteiro, apesar copiar a fórmula básica do original, traz detalhes novos que são interessantes o bastante pro filme não parecer uma sequência completamente preguiçosa e sem personalidade (a cena de ação no cinema achei divertida, achei interessante também a ideia de "dissolver" os tornados, e a subtrama envolvendo especulação imobiliária, embora mal explorada, não deixa de ser um conflito novo e intrigante).

É justamente pelo filme ter tudo pra ter sido uma sequência digna do primeiro que certos detalhes frustram tanto. O mais grave deles pra mim é o casting da Daisy Edgar-Jones, que apesar de parecer boa atriz, simplesmente não convence neste papel. Ela não parece ter mais que 20 e poucos anos na tela, mas temos que acreditar que ela é uma veterana do ramo, alguém com mais experiência caçando tornados que todos ao seu redor, que carrega traumas e cicatrizes do passado (tipo um Capitão Quint de Tubarão), que já até se "aposentou", e agora, depois de anos afastada do ramo, é convencida a voltar pra uma missão especial. Mesmo que ela tivesse a idade da Helen Hunt no filme de 1996 (32/33 anos), Daisy ainda não transmitiria o tipo de força e autoridade que uma atriz precisa transmitir pra convencer em um papel tão masculino (um amigo durante a sessão comentou que a Jessica Chastain teria sido uma escolha melhor pro papel, e eu concordei).

O filme não é dominado por uma mentalidade woke (não tem discursos ambientalistas, surpreendentemente) mas certamente há elementos disso nessa caracterização da heroína e na maneira como o personagem do Glen Powell (que teria dado um bom protagonista também) é colocado em segundo plano pra não roubar o brilho dela, especialmente na sequência de ação final (o romance entre os dois também é quase totalmente abafado). Essa artificialidade da protagonista impede o filme de ter um drama envolvente por trás da ação, o que torna a trama meio vazia no segundo ato (é bem o que digo no texto Complementaridade sobre personagens que são privados de vulnerabilidades e acabam se tornando distantes).

Outro problema menor aqui é a ausência de um vilão claro - o filme foge daquela situação "time do bem" vs. "time do mal" que havia no primeiro, e apresenta conflitos mais complexos e cheios de nuances entre os personagens, o que é um toque Naturalista inapropriado nesse caso.

Apesar de tudo, o filme ainda está mais próximo de um acerto do que de um erro. É um blockbuster decente prejudicado por alguns elementos, não um caso indigesto de Idealismo Corrompido.

Twisters / 2024 / Lee Isaac Chung

Satisfação: 7

Categoria: Idealismo Imperfeito

Filmes Parecidos: Jurassic World: Reino Ameaçado (2018) / No Olho do Tornado (2014) / Indiana Jones e a Relíquia do Destino (2023) / Doutor Sono (2019)

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